O emprego e a falta de qualificação
Frequentemente – especialmente nos anos eleitorais – surgem as noticias positivas. Anuncia-se agora que, depois de enfrentar bravamente a crise que transformou grandes tigres da economia internacional em desnutridos gatinhos, o Brasil é um paraíso de empregos. O ano deverá fechar com a criação de mais de 10 milhões de postos de trabalho e tudo vai bem, segundo dizem. Ardilosamente, justificam que quem não consegue uma colocação é porque não atende às qualificações exigidas pelo mercado, onde existem milhares de vagas não preenchidas.
Mas, ao colocarem a culpa no povo, que não se qualificou, os cínicos governantes de hoje, de ontem e de anteontem fazem questão de se esquecer que não foi por vontade própria que a maioria do povo não se preparou para as vaga especializadas hoje anunciadas. Parece ignorarem que a escola pública, em vez de se desenvolver, foi criminosamente sucateada e hoje, em muitos casos, no lugar de preparar jovens para o trabalho, entrega diplomas a quem reconhecidamente não aprendeu a lição.
Os ufanistas eleitorais também fazem ignoram que muitas famílias, durante muito tempo, sequer teve o que comer pois os seus integrantes estiveram desempregados e, como tal, não podiam pensar em investir no estudo das crianças, já que o ensino público está falido e o particular custa dinheiro.
Esses mesmos que hoje ocupam os meios de comunicação para dizer que vivemos a maravilha de pais desenvolvido e bem posicionado no ranking da economia mundial, dentro de mais alguns dias estarão batendo às nossas portas para pedir o nosso voto para si ou para algum seu representado. Pena que não dê tempo para, antes, também explicarem de uma forma convincente como é que num país onde há o pleno emprego, o chefe de família ainda leva em média 9 meses para encontrar uma nova colocação. E que a explicação não venha na esfarrapada desculpa da falta de qualificação!
O governo e suas estruturas existem para solucionar o problema a administração e do povo. Se temos hoje um grande número de desqualificados profissionais, a culpa é de quem não criou condições para que se treinassem para enfrentar os desafios do desenvolvimento. Essa gente não pode esperar. Tem de ser atendida com a maior rapidez e, de alguma forma, integrada ao mercado de trabalho ao mesmo tempo em que procura se preparar para os desafios maiores. Os governos, que já distribuem as diferentes “bolsas”, não devem se esquecer também da bolsa-emprego. Para muitos dos brasileiros não precisa dar mais nada. Se tiverem emprego, eles próprios correm atrás de seus interesses e saem da área de dificuldade.
Mesmo que chegue à quinta economia de mundo, que alguns prevêem para breve, o Brasil, hoje colocado no oitavo lugar daquela escala, jamais poderá ser considerado um pais de primeiro mundo se continuar sacrificando seu povo com maus serviços de educação, saúde, segurança pública, moradia e outros itens que garantem uma vida digna ao cidadão. Para ser justo e desenvolvido, tem de distribuir a renda...
Acorda, gigante!
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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