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Opinião
Segunda - 31 de Maio de 2010 às 13:35
Por: Bruno Boaventura

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Leitor, um pouco de imaginação e consideração pelo escrito é o que peço. Sem babaquices, faça a vontade de assistir a Copa do Mundo da África do Sul um canal para uma reflexão sobre o que é a massa, mais do que nunca um produto da condição social da vida humana. 

Você, após acompanhar e discutir intensamente a escalação, até mesmo com pessoas completamente estranhas ao seu convívio, está vestido patrioticamente com a camisa amarela da Seleção Brasileira de Futebol. Original da Nike ou falsificada não importa, você está feliz, gosta de futebol, ainda mais quando é Copa do Mundo. Mais do que simples torcer por futebol, após 4 anos, é neste momento de vestir-lá que sente o orgulho de ser da torcida da potência mundial do futebol. Reúne a família, os amigos, e até mesmo vai à rua, não só torcer, mas fazer parte de algo muito maior: um sentimento ingênuo e gentil de querer a vitória pelo bem da felicidade do povo brasileiro. 

Acontece que você é um dos privilegiados, após enfrentar a fila, que não é algo exclusivo da “cultura” brasileira, mas de todos os massificados centros urbanos, você está adentrando ao estádio Ellis Park em um dos mais violentos bairros da capital Johanesburg.

Os lugares não são marcados, e você é o primeiro a chegar. Depois de refletir sobre o melhor ângulo de visão, você senta ao centro, perpendicular a linha do meio do campo. Você determina consigo, é este o melhor lugar, e ele é meu. Mesmo diante desta certeza, você sabe que nada adianta o melhor lugar, se não houver jogo, se não houver outros torcedores. Ao encarar este vazio, a solidão lhe ressalta a grandeza do estádio, os sons do vento, os detalhes da construção, e por fim o desejo de que outras pessoas estivessem ali.  

Aos poucos, outros torcedores brasileiros vão chegando. Em pequenos grupos, eles não se assentam ao seu lado, como você pensou que o fariam, afinal obviamente ao lado do seu seria o melhor lugar. Eles preferem outras cadeiras, pois acreditam também que existe um espaço na imensidão do estádio que é deles.

Por mais que sejam diferentes em suas complexidades características, surpreendentemente os grupos trazem consigo uma simplicidade convergente: a alegria desenfreada de esperançosamente saírem mais felizes do que entraram.

Aquilo que eram grupos distantes ganha uma nova forma. Os sentimentos ansiosos lhe tomam o fôlego e explodem em alguns ainda esporádicos gritos de torcida. Você, pacato cidadão mato-grossense, pouco acostumado a estádios lotados, e sempre tímido em suas manifestações, começa achar confortável a idéia de também gritar, afinal todos também gritarão. Mas existem grupos, e cada qual com a sua palavra de ordem, você não sabe qual acompanhar.

É neste momento, que algumas vuvuzelas começam a trombetear, e organizadamente surge um grupo grande de torcedores liderados por homem de desprezível personalidade que iniciam um grito incapaz de desacompanhar. Não porque as palavras são patrióticas, bonitas ou algo parecido, mas porque são simples, e todos, invariavelmente, todos ao seu lado estão cantando.

Você, agora, sente que o conforto de também gritar é ainda maior ao pensar que aquilo pode impulsionar a sua Seleção à vitória, pode colocar um sentido no emblema das cinco estrelas que palpita com o seu coração, pode lhe preencher o vazio e te dar por alguns instantes a certeza que você faz parte de algo muito maior do que os conflitos da sua individualidade.

Bem vindo, você se tornou a pequena parte de uma massa. Nada profundamente lhe interessa, mas somente tornar algo que por natureza você não é: grande, coeso, pouco pensativo, moderadamente emotiva e invariavelmente controlável. 

Enfim, você, individuo do século XXI, tem as suas próprias características de se tornar algo que na sua pequenez individual sabe que não é, mas ao mesmo tempo lhe fazem ter a certeza em alguma grandeza coletiva de pensar que você é. Você tem os seus caminhos, que possibilitam lhe tornar parte da massa.

Você se torna não, desculpe, você pelo menos sabe da condição, mais do que nunca, de ser um produto na vida humana, o de ser parte de uma massa manipulável.  


Bruno J.R. Boaventura – advogado. Confiram a versão completa do texto em: www.bboaventura.blogspot.com


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