De sofrido
Atividade parlamentar em silêncio é exercício da covardia, é trair a consciência coletiva que elege e outorga procuração política para representá-la. Nesse momento não consigo encontrar outra definição para a Assembleia Legislativa de Mato Grosso senão COVARDIA.
Confesso que não me agrada essa referência aos nossos deputados, pois afinal são eles que compõem a Assembleia, que é instituição perene. Porém, diante do silêncio injustificável do plenário face ao que acontece na esfera parlamentar com a deflagração da operação Jurupari, não me resta outra manifestação.
Para mim Jurupari resulta de desastrosa omissão do Ministério Público Federal, que segundo se diz teria monitorado por dois anos ações de devastação ambiental, sem autuar madeireiros, sem apreender madeiras, sem efetuar prisões e sem estancar o mecanismo de corrupção que teria se instalado na Secretaria de Meio Ambiente (Sema) e que supostamente alimentaria com documentação fraudulenta a suposta agressão ao meio ambiente.
Essa operação carente de lógica preservacionista, de eficiência no combate a crimes ambientais, com barulho de pirotecnia e eivada de falhas a ponto de confundir – e cumprir – mandado de busca e apreensão com prisão preventiva precisa da luz da transparência e do crivo da cobrança institucional.
Pois bem, Jurupari prendeu um sexagenário ex-presidente da Assembleia Legislativa, Ubiratan Spinelli, que exerceu o mais alto cargo legislativo mato-grossense ocupando a cadeira que anteriormente pertenceu a seu pai o deputado Mário Spinelli.
Essa mesma operação prendeu a mulher do presidente da Assembleia, deputado José Riva, Janete Riva, e por engano ou outra justificativa que o valha também botou atrás das grades um genro do mesmo parlamentar.
Também essa operação prendeu assessores parlamentares lotados na Assembleia.
Além disso, Jurupari vulgariza o exercício parlamentar distribuindo – sabe-se lá como – degravações de conversas telefônicas de deputados e do ex-governador Blairo Maggi com servidores de proa da Sema, sem que de tais conversações se extraía uma vírgula sequer de suspeita sobre tráfico de influência para prática de crimes ambientais.
A covardia da Assembleia se vê diante dos fatos acima narrados. Até o momento, somente o deputado José Riva foi contundente sobre a operação, mas não se viu de seus pares o mínimo de reação. Passivamente os deputados observam ao largo a mão pesada dessa que é verdadeira quebra de princípio federativo descer esmurrando a coluna dorsal da Legislatura de Mato Grosso.
Tribuna é para se usar não para se acovardar. Seria mais digno a renúncia coletiva da atual legislatura ao silêncio cortante e humilhante que se vê no Palácio Governador Dante de Oliveira.
Além de ferir a Assembleia Jurupari desqualifica Mato Grosso no contexto nacional, desmotiva investidores, tira o foco das oportunidades que esta terra oferece a quem opta por ela e o substitui por um falso clima de insegurança ambiental, de vulgaridade oficial na esfera estadual.
O conjunto da imprensa mato-grossense poderia nesse momento fazer coro com Mato Grosso para questionar a forma como se montou e se desencadeou Jurupari, mas em sua quase totalidade não o faz, mormente no tocante a sites que até então eram carne e unha com o sistema de Comunicação da Assembleia.
Jurupari bate. Parte da imprensa aplaude. A Assembleia faz silêncio sepulcral. Desse cenário surge o Mato Grosso de fachada criado por inconfessáveis razões. A conta é debitada ao povo, que de tão sofrido sequer se lembra que tem cidadania e força para mudar o que está errado.
Eduardo Gomes de Andrade
eduardogomes.ega@gmail.com
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