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Opinião
Domingo - 23 de Maio de 2010 às 14:00
Por: Eduardo Gomes

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“Ele tem mais calos na consciência do que nas mãos” retrucou João Pedro Stedile. A resposta do líder do MST levou abaixo o auditório urbanóide do programa de variedades da Band. Isso aconteceu no final dos anos 1990, quando o Brasil efervescia com a prevalência da função social da terra sobre o ordenamento jurídico. Com esta frase de impacto Stedile retrucou o argumento de um presidente de sindicato rural no Pontal do Paranapanema, que defendia um pecuarista sexagenário que teve a fazenda invadida sem que ninguém respeitasse sua propriedade, idade e as mãos arrebentadas pelo trabalho honrado.

O ciclo da reforma agrária ideológica e insana passou. Porém, enquanto durou o Brasil amargou um período de incerteza e de frustração no campo. Hoje, ao invés de demanda por terra há êxodo dos projetos de assentamento para a cidade e muitas áreas desapropriadas estão parcialmente vazias, parcelas se fundem e se transformam em médias propriedades e a improdutividade é a grande impressão digital da política agrária que nasceu com o tucanato de FHC e se arrasta no governo do companheiro – não meu – Lula.

Em Mato Grosso a reforma agrária é vergonhosa – creio que esse quadro tem dimensão nacional – e exige imediata revisão. É preciso que se faça recenseamento dos assentamentos e parceleiros para se extrair a dimensão do caso. Por amostragem conheço reazoavelmente bem cenários desoladores. Reconheço que ainda há demanda por parcelas, mas avalio que esse é bem menor do que as terras ociosas abandonadas por assentados que foram ‘laçados’ por falsas promessas ou por falta de horizonte na vida, mas que não tinham perfil de agricultor.

Milhares de hectares distribuídos em parcelas com energia, rodovia na porta e moradia de alvenaria estão inativos ou ocupados indevidamente. O Ministério da Reforma Agrária tem que rever essa situação e, dentro da realidade, desmobilizar assentamentos e reincorporá-los ao sistema produtivo vendendo tais glebas, o que permitiria o aumento da produção agropecuária sem necessidade de antropizar novas áreas.

O momento é de enxugar a reforma agrária destinando-a aos que realmente querem produzir e que se identificam com a terra. Chega de usá-la para fins ideológicos na tentativa de transformar o Brasil numa republiqueta campesina latina comandada pelo rescaldo da defunta ditadura stalinista, porque o tempo se encarregou de nos mostrar que entre a frase de Stedile e a realidade nos assentamentos há um vazio de mãos calejadas de sábios na arte de matar a fome da humanidade.


* Eduardo Gomes é jornalista

eduardo@diariodecuiaba.com.br



Autor

Eduardo Gomes
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É Jornalista em Cuiabá

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