Chapa do sacrifício
Eleição costuma ser um projeto coletivo. Elegem-se, em geral, candidatos que representam bandeiras comuns, setores, segmentos, causas coletivas. Por isso há nos parlamentos as chamadas bancadas corporativas, tais como bancada ruralista, bancada da bala, bancada ecológica, bancada evangélica, etc. Há, sim, contudo, casos em que indivíduos elegem-se ancorados apenas em seus próprios interesses. Mas, esses casos dificilmente ocorrem em eleições majoritárias.
Ao par disso, os especialistas afirmam que a expectativa de poder é o que move a política em geral e uma eleição em particular. Aqueles setores que se sentem representados por um determinado candidato, estão, na verdade, aderindo ao enunciado que ele defende, estão reagindo à sua capacidade de atrair a atenção para a realização de expectativas, em geral coletivas, mas podem ser também individuais – se levarmos em conta que um coletivo é formado de indivíduos, as melhores causas são aquelas que, embora partindo dos interesses dos diversos indivíduos, acabam se tornando coletivas.
Quando uma eleição polariza entre dois candidatos, o correto seria dizer que a polarização ocorre de fato entre dois projetos coletivos distintos. Os indivíduos procuram se identificar em um ou outro projeto, e assim aderem aos candidatos. O já dito até aqui é suficiente para o mote deste artigo: eleição é a arte de atrair interesses, mobilizar expectativas.
Esse fundamento das leis eleitorais pode ser o principal fator a limitar a candidatura de Mauro Mendes ao Governo do Estado este ano. Não está claro, até o momento, que tipo de expectativa ou de interesse ele embala. O que mais se evidencia, inversamente, são os sacrifícios que ele impõe aos que se alinham ao seu projeto, até o momento.
Explico. Por não ser o candidato do governo nem o da oposição, Mauro acaba ficando no meio termo, sem encontrar legitimidade em nada do que diz ou propõe. O primeiro e mais importante reflexo desse seu posicionamento é de não conseguir atrair partidos com densidade eleitoral. Sem essa densidade eleitoral, todos os políticos que o acompanham, caso continuem em seu palanque, darão uma grande demonstração de altruísmo e renúncia pessoal, pois praticamente todos abandonarão na prática qualquer possibilidade de se elegerem para jogar no moinho da candidatura Mauro Mendes.
Os primeiros sacrificados estão em seu próprio partido. O maior deles, certamente é o atual deputado federal Valtenir Pereira. Numa chapa apenas com PSB, PPS, PDT e PV, dificilmente essa coligação fará o número mínimo de votos necessários para eleger um deputado federal. O Quociente Eleitoral para deputado federal este ano deve girar em torno de 200 mil votos. Esses quatro partidos juntos, caso se mantenham nessa posição até o final, têm como candidatos já testados nas urnas para a vaga de federal apenas o próprio Valtenir e Eduardo Moura, do PPS. Ambos fizeram em torno de 50 mil votos cada nas últimas eleições. Supondo-se que repitam suas votações, ainda faltariam, no mínimo, outros 100 mil votos para atingirem o quociente eleitoral. Conclusão: não deverão eleger ninguém.
O sacrifício se repete na formação da coligação de candidatos a deputado estadual. Pelo mesmo princípio, o quociente eleitoral para a Assembléia Legislativa dificilmente ficará abaixo de 70 mil votos, e, pelo visto até agora, os dois únicos deputados estaduais entre os quatro partidos da atual pré-coligação (Percival Muniz e Otaviano Pivetta) já declararam que não vão disputar a reeleição. Ainda que disputem e repitam suas últimas votações, fariam 77 mil votos. Significa que ao menos um seria sacrificado.
Se o sacrifício é factível e inevitável aos que detêm cargos, aos que ainda os postulam e aqueles outros que têm como expectativa apenas se alojar nos espaços de poder conquistados por quem disputa cargos eletivos não sobrará nada – ou seja, não há expectativa real de poder a grande maioria dos que se envolveram até o momento no projeto Mauro Mendes.
Por todas essas razões têm grandes chances de quebrar a banca quem apostar na insustentabilidade do projeto de Mauro Mendes, porque político é o animal que tem o senso de sobrevivência mais aguçado de toda a fauna política.
(*) KLEBER LIMA é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br.
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