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Opinião
Domingo - 16 de Maio de 2010 às 05:06
Por: Lourembergue Alves

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O relógio do tempo corre. Seus ponteiros disputam entre si o melhor lugar ao pódio. Um pódio que nem sempre é a linha de chegada. Pode ser o recomeço da nova e longa jornada. Ontem, por exemplo, de calças curtas, perambulava despreocupadamente pelas ruas e praças da cidade interiorana, de origem garimpeira; ao passo que hoje, se encontra em outra situação, uma vez que os compromissos cotidianos abarcam grande parte do dia, a despeito da exigência dos filhos, que o querem mais perto. Em meio a tudo isso, um tanto sem avisar, chegou Raul Miguel.

Nasceu bem de tardezinha. No exato momento em que o sol se despedia, enquanto a lua se preparava para assumir seu posto. Troca necessária. Embora nos dias atuais, pouquíssimas são as pessoas que ainda se dão ao luxo de presenciar essa transição, cujo desenho serve de pano de fundo ao grande quadro esculpido pela natureza. 

Natural ou não, o certo é que Raul resolveu “mudar de ares”. “Paparicado, que só vendo”. Não lhe faltaram afago, e ele, sem ao menos compreender aquilo tudo, mal conseguia manter os próprios olhos abertos. Não estava acostumado com a luz da lâmpada, tampouco com a que vinha da máquina fotográfica. Aliás, com iluminação alguma. Deveria estar achando aquele ambiente bastante estranho ou, no mínimo, muitíssimo distinto do lugar em que, horas antes, se encontrava; enquanto o pai e avós, quase hipnotizados, se fixavam em seu corpinho franzino, porém já com certa destreza, apesar de pouco mais de três quilos. 

Mostra-se esperto. Esperto até demais, a considerar a data e à hora de sua chegada. Contudo, ainda meio perturbado com a movimentação a sua volta. Tudo para ele é novidade. Para os seus familiares também. Pois, há muito, não se tinha um bebê tão próximo. Tanto que a primeira coisa que o seu avô fez, logo pela manhã, foi comprar e lhe mandar de presente alguns pacotes de fraldas. Quantidade suficiente para passar o frio. Um frio fora de época, mas que rompeu com o calor insuportável, e fez com que as pessoas retirassem do fundo do baú o mais confortável dos agasalhos. 

Raul mexeu com o dia-a-dia dos pais e das avós. Nem os seus tios escaparam. O mais velho, naquela segunda-feira, levado pelo entusiasmo, “enforcou” metade da tarde de trabalho. Tudo para chegar a tempo ao hospital. Não queria perder o tal momento, e, agora, quando fica em casa, volta em meia, deixa-se levar pelo choro desafinado do sobrinho. Som que igualmente atrai o outro tio. Ambos, entretanto, têm medo de pegá-lo no colo. O mesmo temor que tomou conta do avô paterno. Isso é compreensivo. Afinal, já faz um tempão em que o pai da mãe do Raul teve nas mãos uma criatura tão meiga e adorável.

O tempo, portanto, é implacável. Não a ponto de afugentar a sensibilidade humana, o carinho para quem veio engrossar a família. Uma família que carecia de “sangue novo”, até mesmo para impulsioná-la ou para chamá-la a atenção. 

Nasceu, portanto, em boa hora. Sua vinda representa, na verdade, a bênção divina. Não é por outra razão que o Raul é a mudança de que a família precisava para encontrar a si mesma, em um processo de rejuvenescer e de enfrentar as intempéries rotineiras. Enfrentamento relevante para a nova jornada que ora se reinicia. Desta feita, com a companhia de Raul Miguel. Seja, portanto, bem vindo. 


Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.     


Autor

Lourembergue Alves

LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e articulista

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