A crise econômica internacional
O Brasil escapou praticamente ileso da crise do ano passado, que quebrou imobiliárias, bancos, indústrias automobilísticas e outros grandes negócios nos Estados Unidos e serviu para provar que o capitalismo não sobrevive sem o aporte do capital público. Não fosse o socorro do Tesouro, muitas das corporações acossadas pela falta de liquidez hoje não existiriam mais ou não passariam de massa falida. Nós, brasileiros, sobrevivemos a todas aquelas desgraças recorrendo à renúncia fiscal, via redução de tributos dos automóveis, eletrodomésticos, materiais para construção e outros produtos. E o maremoto que assolou o hemisfério norte chegou aqui apenas como a “marolinha” prevista pelo presidente.
Passado o período de reação, que alavancou o mercado e promoveu a expansão do crédito, quando estamos entrando na fase de retorno aos patamares comuns, com a volta gradativa do IPI e a alta da taxa de juros, surge agora a crise grega. Acompanhando todo o mundo, o mercado financeiro tupiniquim operou em baixa. Só na última semana, a Bovespa registrou queda de 6,9% e o dólar teve alta. O desempenho negativo é atribuído ao temor dos investidores em aplicar suas reservas sem saber para onde os ventos soprarão em razão dos arrochos causados pela crise grega e, também, a um suposto erro de operação na Bolsa de Nova York.
Independente da motivação, o certo é que o mercado brasileiro sofre com a turbulência vinda da Europa e o sistema financeiro precisa ficar atento para evitar prejuízos maiores e, principalmente, o colapso. Até onde o problema grego nos afetará, eis a questão.
Temos de concordar que a solução encontrada para a crise americana foi sui-generis. Para evitar o atropelo, as autoridades monetárias abriram mão dos impostos, facilitaram a oferta de crédito e aqueceram o mercado, evitando que as farpas vindas do exterior atingissem a nossa economia. Mas tudo tem um limite. É preciso sabermos se, com as benesses econômicas anti-crise americana já não chegamos perto do ponto onde não seria mais possível empregar o mesmo “remédio”. Até onde, numa retração de mercado e de investimentos externos, a economia brasileira agüentaria continuar incentivando a produção e o consumo internos?
Embora seja a oitava (e tenha previsão para fechar o ano como a quinta) do mundo, a economia brasileira enfrenta muitos desequilíbrios. Produz muito e arrecada carga tributária elevada, mas não pode se vangloriar de boa distribuição das rendas e nem de um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) compatível com a pujança de seu parque produtivo. No ranking de 2009, aparecemos em 75º lugar, superados pelos nossos vizinhos mais pobres como Argentina, Venezuela e Uruguai.
As autoridades brasileiras precisam reunirem-se com o empresariado e os investidores para traçarem medidas firmes e profundas que evitem ou pelo menos amenizem a chegada da crise que, a partir da Grécia, ameaça todo o mundo globalizado, inclusive o Brasil. Foi o empresariado que ajudou o governo a agüentar a crise americana e só sobrar para o Brasil a dita marolinha.
Todos temos o dever de lutar pela estabilidade. Uma crise verde-e-amarela seria catastrófica. Tudo o que não podemos admitir...
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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