Ausência Eternamente Sentida
O segundo domingo do mês está bem próximo. Dia especial, pois se homenageia a mulher, a mãe e, enfim, aquela que, independentemente de seus afazeres diários, que são muitos e variados, se dedicou e ainda se dedica boa parte do tempo aos filhos. Isso sem falar da sua preocupação, mesmo quando eles estão criados. Próprios de quem dá guarida e refugia.
O refugiar-se, aqui, tem o sentido de ser acolhido, agasalhado e cuidado. Princípio que norteia e realça um amor grandioso, sublime, pois nada é mais generoso e maior que o sentimento materno. Um sentimento que surge bem antes do nascimento do próprio rebento, certamente brota juntamente com o de filha, e se fortalece com o tempo. Um tempo que transcorre independentemente do relógio cronológico. Pois o filho sempre será “o menino” para aquela que o espreitou no colo e lhe ofereceu o próprio corpo como o mais reconfortáveis de todos os agasalhos, ainda que não o tenha parido, mas o acolheu via adoção. O adotado e o gestado, neste particular, se confundem e se entrelaçam a ponto de não haver entre eles qualquer diferença, afinal o papel de mãe é um só, e extrapola os limites uterinos e a estadia de nove meses.
Por isso, hoje, tanto quanto ontem, e amanhã mais do que hoje, D. Regina faz tanta falta. Ausência sentida também pelos netos que nem chegaram a conhecê-la, sequer puderam provar de seu afeto e ter ciência da sua sabedoria. Sabem a respeito dela pelas palavras do pai, e, a partir daí, fazem uma idéia do que foi aquela mulher gordinha, olhos negros, cabelos mais para crespos, nariz grosso e arrebitado e de lábios carnudos. Sua estatura era mediana, cujo tronco era maior que as pernas, movida por generosidade e tinha como lema, a felicidade dos filhos, incluídos os que não foram gerados no interior de seu útero. Útero que a doença corroeu e, quando descoberta, nada mais havia o que se fazer. Ela “virou um palito”, comparada ao que era antes de se adoecer. O câncer não só minguou sua resistência, como lhe ceifou a vida, deixando a prole sem o ponto de apoio, a referência tão necessária para o enfrentamento com as intempéries cotidianas. Razão pela qual, volta e meia, a família encontra-se à deriva. Falta-lhe “o chão” o tudo. Também, pudera não se tem mais a figura meiga e extraordinária, de passos rudes devido a sua nenhuma escolaridade, porem precisos, firmes e simbólicos, cujos rastros deixam amostras uma sabedoria sem igual, própria de alguém que passa toda a vida de dedicação aos filhos.
Já se passaram duas décadas e meia sem a sua presença física. Mas não há dia sem que se lembre dela, fale sobre ela e tem a sensação de que se é seguido por ela, a exemplo de um anjo a iluminar o caminho.
Infelizmente, no entanto, muitos filhos só valorizam o tal refúgio e guarida quando não os têm mais. Não os têm porque a responsável por esses agasalhamentos já se foi para outra esfera, distintamente da terrestre. Um vazio sem tamanho toma conta dos que ficam. Lacuna que jamais é preenchida, mesmo quando se tem as próprias “crias”. Inclusive nessas horas, a mulher-mãe, e a partir de agora avó, faz uma falta danada. Não em razão do trabalho. Mas, sim, do exemplo a ser seguido.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
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