A crônica falta de médicos
Os vereadores de São Paulo, em recente vistoria, concluíram que faltam 447 médicos em quatro hospitais municipais. Se isso vem ocorrendo na maior cidade do país, não e de se estranhar que seja uma realidade nacional. Basta uma rápida percorrida nos noticiário para constatar que tanto nas grandes cidades quanto nas pequenas há falta de profissionais e isso torna precária a saúde, definida na Constituição como direito do cidadão e dever do Estado. Pronto-socorros mantêm pacientes “internados” nos corredores, enfermeiros são obrigados a decidir quem vive e quem morre porque faltam equipamentos para atender a todos, unidades primárias de saúde não funcionam, etc. É uma vergonhosa realidade que, pelo menos até agora, ninguém parece interessado em modificar.
Os governos destinam polpudas verbas para o setor, existem ilhas de excelência no sistema, mas a maioria da rede é composta de hospitais e ambulatórios sucateados, com falta de pessoal e equipamentos e precariedade de toda ordem. E as autoridades ainda têm a coragem de proferir empolgados discursos onde registram que a população tem atendimento de saúde. Mentirosos, canalhas! Nem quem tem um pouquinho de dinheiro, e consegue pagar um plano de saúde, tem garantida a sua assistência médico-hospitalar, pois o governo é incompetente até para exigir que as operadoras cumpram os contratos.
Quanto à falta de médicos, há que se adotar medidas radicais. Apesar de termos 181 escolas médicas funcionando no país, ainda faltam profissionais. Principalmente porque, ao se formarem, muitos deles se instalam nos grandes centros e começam a corrida do ouro para, em poucos anos, adquirirem fazendas, haras e outros empreendimentos que chegam a tirá-los da profissão. Há dois anos, um estudo revelou que 455 municípios brasileiros não possuem médicos e têm que levar seus doentes para atendimento na cidade vizinha ou na capital.
O mais grave é que os médicos formados pelas escolas públicas recebem a formação gratuitamente. Outra parte deles, mesmo em escolas particulares, estudam com bolsas pagas pelo governo ou por renuncia fiscal. E, depois de formados, não se fixam na profissão ou trabalham exclusivamente para si, ignorando a função social da medicina. É necessário criar, urgentemente, o regime de contrapartida. Todos os médicos (e também os demais profissionais) que estudam em escolas públicas ou com bolsas custeadas pelo governo, devem, antes de ir fazer a própria vida profissional nos grandes centros ou cidades de origem, prestar serviços remunerados na rede de atendimento ao público e nos municípios interioranos, inclusive os mais distantes. Essa seria a forma de ressarcir os gastos públicos e dar certo retorno ao país, cujos impostos arrecadados do povo são aplicados na sua formação.
Espera-se que os candidatos eleitos nas próximas eleições façam algo nesse sentido. Seria uma forma racional de resolver o problema de saúde da população. Chega de descaso, sofrimento e morte!...
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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