Repórter News - reporternews.com.br
Morre o Homem, Mas não Suas Paixões
Logo pela manhã, a primeira rotina, o acessar a Internet. Foi, então, que se deparou com a triste notícia: “Faleceu José Fragelli”. Trata-se de alguém desconhecido para a maioria dos internautas, a não ser um ou outro dentre esses que, curiosamente, tenha associado o seu nome com o do “Verdão”, estádio que está com os dias contados para o seu desaparecimento completo.
Coincidência? Certamente que não. A velha praça de futebol ainda suportaria um bom tempo, ainda que mal cuidada e castigada por quem desfilasse por sua arena, e a “antiga raposa”, bem que poderia continuar por aqui, servindo de exemplo. Representante de um período onde o plenário era a dependência mais cobiçada do Parlamento. Inexistia sessão sem o embate. Não importava o tema. Sempre se colocariam, frente a frente, udenistas e peessedistas, ladeados e aparteados por petebistas. Da tribuna, os discursos se faziam ouvir em todo o recinto, e deste ecoava pelo Estado, pois cotidianamente se tinha um representante ou do “Combate”, ou do “Social Democrata” ou do “Trabalhista”. Porta-vozes das principais agremiações partidárias.
Cenário que Fragelli conhecia muitíssimo bem. Destacava-se como orador grandioso, professor de direito penal admirado e liderança respeitada. A tribuna era a sua guarida, seu local predileto na Assembléia Legislativa, embora tivesse que dividi-la, volta e meia, com outros esgrimistas formidáveis, do porte de um Jary Gomes, Lenine Póvoas e Amorésio.
Três expressões de uma época, recheada de grandes esgrimistas, em que o Parlamento estadual do presente nada tem em comum. Pois, nos dias de hoje, raras são as discussões. Também pudera os atuais deputados nada têm para dizer, que dirá para apresentar, uma vez que lhes falta tudo, inclusive a facilidade no lidar com as palavras, ainda que à moda gorgiana.
A ausência do velho udenista é sentida em cada página das atas das sessões. Não só nas de Mato Grosso. Mas, igualmente, nas do Congresso Nacional. Pouquíssimos tinham a sua habilidade, o jeito apropriado para cada ocasião, mesmo que diante da adversidade. Se bem que a adversidade do presente é resolvida fora do plenário, em uma sala dos acordos e das negociatas.
Avesso a esse tipo de arranjo, Fragelli preferia colocar uma pitada de ética no caldeirão dos interesses. Foi, portanto, alguém bastante ligado ao seu tempo. Um tempo em que o jogo político era movido pelas teses, sem, contudo, ignorar a relevância do princípio e da coerência, mesmo que o espírito das paixões tenha suscitado divisões e desfeito casamentos, cujos alicerces se supunham estar solidificados.
Assim era a “velha raposa”. Não tardou a alçar outros vôos. Chegou a Câmara Federal como uma bandeira promissora, e da Câmara retornou para a Capital, na condição de governador. Gestão muito boa, a despeito da extensão territorial, uma vez que o Sul e o Norte formavam uma única unidade, em meio ao bairrismo e a sensação divisionista.
Fragelli se colocava acima dessas diferenças, embora tenha levantado sua voz a favor do Mato Grosso do Sul. Mesmo desmembrado, no governo de Garcia Neto, Fragelli não deixava de elogiar a gente do lado de cá, pois, no fundo, reconhecia serem ambos os lados oriundos de um mesmo processo histórico.
Morre, portanto, o homem. Porém suas idéias e seus exemplos continuarão vivos, sobretudo a sua paixão pela tribuna parlamentar.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
Coincidência? Certamente que não. A velha praça de futebol ainda suportaria um bom tempo, ainda que mal cuidada e castigada por quem desfilasse por sua arena, e a “antiga raposa”, bem que poderia continuar por aqui, servindo de exemplo. Representante de um período onde o plenário era a dependência mais cobiçada do Parlamento. Inexistia sessão sem o embate. Não importava o tema. Sempre se colocariam, frente a frente, udenistas e peessedistas, ladeados e aparteados por petebistas. Da tribuna, os discursos se faziam ouvir em todo o recinto, e deste ecoava pelo Estado, pois cotidianamente se tinha um representante ou do “Combate”, ou do “Social Democrata” ou do “Trabalhista”. Porta-vozes das principais agremiações partidárias.
Cenário que Fragelli conhecia muitíssimo bem. Destacava-se como orador grandioso, professor de direito penal admirado e liderança respeitada. A tribuna era a sua guarida, seu local predileto na Assembléia Legislativa, embora tivesse que dividi-la, volta e meia, com outros esgrimistas formidáveis, do porte de um Jary Gomes, Lenine Póvoas e Amorésio.
Três expressões de uma época, recheada de grandes esgrimistas, em que o Parlamento estadual do presente nada tem em comum. Pois, nos dias de hoje, raras são as discussões. Também pudera os atuais deputados nada têm para dizer, que dirá para apresentar, uma vez que lhes falta tudo, inclusive a facilidade no lidar com as palavras, ainda que à moda gorgiana.
A ausência do velho udenista é sentida em cada página das atas das sessões. Não só nas de Mato Grosso. Mas, igualmente, nas do Congresso Nacional. Pouquíssimos tinham a sua habilidade, o jeito apropriado para cada ocasião, mesmo que diante da adversidade. Se bem que a adversidade do presente é resolvida fora do plenário, em uma sala dos acordos e das negociatas.
Avesso a esse tipo de arranjo, Fragelli preferia colocar uma pitada de ética no caldeirão dos interesses. Foi, portanto, alguém bastante ligado ao seu tempo. Um tempo em que o jogo político era movido pelas teses, sem, contudo, ignorar a relevância do princípio e da coerência, mesmo que o espírito das paixões tenha suscitado divisões e desfeito casamentos, cujos alicerces se supunham estar solidificados.
Assim era a “velha raposa”. Não tardou a alçar outros vôos. Chegou a Câmara Federal como uma bandeira promissora, e da Câmara retornou para a Capital, na condição de governador. Gestão muito boa, a despeito da extensão territorial, uma vez que o Sul e o Norte formavam uma única unidade, em meio ao bairrismo e a sensação divisionista.
Fragelli se colocava acima dessas diferenças, embora tenha levantado sua voz a favor do Mato Grosso do Sul. Mesmo desmembrado, no governo de Garcia Neto, Fragelli não deixava de elogiar a gente do lado de cá, pois, no fundo, reconhecia serem ambos os lados oriundos de um mesmo processo histórico.
Morre, portanto, o homem. Porém suas idéias e seus exemplos continuarão vivos, sobretudo a sua paixão pela tribuna parlamentar.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
URL Fonte: https://reporternews.com.br/artigo/1327/visualizar/
Comentários