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Opinião
Sexta - 30 de Abril de 2010 às 12:05
Por: Lourembergue Alves

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Erros estratégicos de campanha são comuns, e cometidos por todos os atores da política. Não apenas por inexperientes. É claro que a inexperiência faz com que se erre mais. Mas erram também, e muito, os mais calejados. O ex-metalúrgico, agora na chefia da administração pública federal, se encontra nessa última lista. Na disputa de 2010, por exemplo, ele insistiu para que o deputado Ciro Gomes desistisse de sua candidatura à Presidência da República. Insistiu tanto, que acabou por "convencer" o PSB a descartar tal possibilidade.

Acontece que a não entrada desse deputado na disputa favorece, sobremaneira, o candidato Serra (PSDB). Basta que se dê uma olhada, ainda que rápida, nas pesquisas até o momento publicadas. Ciro Gomes vinha sempre oscilando entre 9,0 e 12%. Isso desde dezembro do ano passado, de acordo com o instituto Data Folha. Esses índices podem até cair, como, aliás, já vinha ocorrendo, anunciando assim a sua não-vitória político-eleitoral.

Seus eleitores, com a sua desistência, entretanto, não irão para o lado da petista Dilma Rousseff. Pois eles, seus eleitores, estão, em sua maioria, descontentes com a atual gestão e/ou são partidários de um projeto alternativo para o país, sem, contudo, subtrair os ganhos sociais registrados. Situação que não se vê na fala da ex-ministra-chefe da Casa Civil, nem tem a menor possibilidade de aparecer, uma vez que a única preocupação da candidata "é colar-se" ao presidente Lula. Ela tem lá suas razões, afinal se tornou candidata, e com grandes possibilidades de vitória, graças à "imposição" e o espírito coronelístico do ex-sindicalista, além da sua popularidade.

Percebe-se, então, que dificilmente o grosso do eleitorado do Ciro irá se somar ao da petista-candidata. Mas, sim, tenderá a ser atraído pelas palavras do ex-governador de São Paulo. Não é por acaso que o discurso do tucano tem como frase-chave "o Brasil pode mais", e, quando dita, lá no instante da oficialização dessa candidatura, foi logo ironizada pelo governo petista.

Talvez, por isso, a próxima pesquisa se tornou tão esperada. Pois fornecerá, mais do que as outras, dados nessa direção. E se isso ocorrer, como parece que irá acontecer, uma vez que o nome do deputado não figurará na lista dos postulantes ao cargo maior do país, a especulação em torno da vitória tucana em primeiro turno voltará à mesa dos debates.

Diferentemente do que seria, e vinha sendo registrado com a presença do socialista no páreo. O distanciamento de José Serra se encontrava, ali, preso entre 4,0 e 10%. Índices suportáveis, e não causadores de assombros ao atual inquilino do Palácio Alvorada.

Esse, porém, não satisfeito com os números apresentados, entendia que o deputado cearense subtraia votos da sua candidata. Equívoco, talvez, provocado pela sua miopia política ou pela sua "vontade doentia" em fazer da atual campanha uma disputa particular contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ou as duas coisas juntas, uma vez que insiste em "comparar" o conjunto de suas ações com o do seu antecessor.

Tática que lhe rendeu dividendos eleitorais significativos, sobretudo quando o sociólogo se valia dos meios de comunicação para registrar suas críticas ao governo. Parte desses dividendos poderia parar no "bornal" da petista-candidata, ajudando-a a ir para o segundo turno. Mas com a presença na disputa do socialista, sem a qual tudo pode acontecer inclusive uma vitória tucana já em outubro.


Lourembergue Alves
é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br



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Lourembergue Alves

LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e articulista

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