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Opinião
Quinta - 22 de Abril de 2010 às 10:35
Por: Eduardo Pocetti

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Ninguém é, nem poderia ser, contra a salvação do planeta, a preservação da floresta, a conservação da biodiversidade e o respeito às comunidades tradicionais que dependem da natureza para sobreviver. Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso sabe que políticas ambientais desastrosas do passado produzem efeitos nefastos hoje, e que somente uma sincera disposição em garantir a sustentabilidade pode evitar que, no futuro, problemas maiores acabem surgindo.

Por isso, quando vemos um cineasta americano e vários ambientalistas brasileiros se empenharem na contestação a uma obra de infraestrutura como o complexo hidrelétrico Belo Monte, no Rio Xingu, tendemos a concordar com eles.  Ora, eles querem que deixemos as árvores em pé e os índios em paz! Estão certíssimos, não estão?

Infelizmente, a resposta é não. Um redondo e taxativo não. Pois o fato é que o mundo não para de evoluir, as necessidades humanas não deixam de crescer e é impossível conquistar níveis mínimos de bem-estar sem que haja energia elétrica para colocar em funcionamento as indústrias, os hospitais, os eletrodomésticos, os computadores. E ainda não surgiu uma opção de energia limpa, renovável e segura como a hidrelétrica.

A parte brasileira de Belo Monte é maior que a de Itaipu, e sua potência instalada será de 11 mil megawatts. Trata-se de um potencial imenso, essencial para alimentar o crescimento do País nos próximos anos. Se renunciarmos à energia hidrelétrica, recorreremos a quê? Às termoelétricas, que lançam quantidades absurdas de CO2 na atmosfera – justamente deste gás, que é o grande vilão das alterações climáticas que também mobilizam ecologistas do mundo inteiro? Ao enriquecimento de urânio para a geração de energia nuclear? Isso faria ativistas do Greenpeace se deitarem em frente às obras das usinas para protestarem contra a construção! Ou dependeríamos das fontes eólicas, solares e de biomassa, que custam caro e ainda estão em fase de desenvolvimento?

No caso de Belo Monte, não se trata de subordinar o elemento humano ou o equilíbrio natural a interesses econômicos. Trata-se, antes, de fazer uma opção pelo coletivo. Do ponto de vista ético, escolhe-se preservar o direito das gerações presentes e futuras a desfrutarem de um nível de desenvolvimento econômico e social como jamais tivemos antes. E esse alto grau de desenvolvimento requer energia. Simples assim!

É óbvio, porém, que há necessidade de adequar as obras às peculiaridades do ecossistema no qual ela será inserida. Impactos serão inevitáveis, mas seu resultado não precisa ser devastador. Aliás, convém ressaltar que o documento de concessão de licença para a obra, emitido pelo IBAMA, estabelece 40 condicionantes que terão de ser cumpridas.

Para mitigar os impactos ambientais e sociais da obra – provocados não somente pela construção em si, mas também pela chegada do contingente de trabalhadores –, a licença prevê investimentos de R$ 1,5 bilhão, destinados a contrapartidas e compensações ambientais. Entre as condições que terão de ser cumpridas, incluem-se construção de escolas e postos de saúde na região da usina e a execução de obras de saneamento básico em municípios próximos à área da barragem. Ou seja, serão oferecidas melhorias efetivas para as populações locais. O Ibama também determinou que a navegabilidade do Rio Xingu seja mantida durante todo o tempo de construção e operação da usina, e exigiu, dos futuros empreendedores, um plano de conservação dos ecossistemas aquáticos e terrestres do entorno.

Todos esses cuidados demonstram que há responsabilidade e compromisso em assegurar que Belo Monte seja um empreendimento sustentável. A realização da obra pode não ser o final feliz que James Cameron colocaria em um de seus filmes, mas certamente ela será essencial para que nós, brasileiros da vida real, tenhamos um futuro melhor.


* Eduardo Pocetti é CEO da BDO Auditores Independentes.



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