Pedro Taques, o novo Hulk
Meus amigos, meus inimigos: o ex-procurador Pedro Taques, está mergulhando no cotidiano da política e, em torno dele, se levantam grandes expectativas. É provável que o Projeto da Ficha Limpa não seja validado para esta eleição – então, o que está pintando é que teremos o mesmo padrão de sujeira dos candidatos. E a democracia nos cobra um aperfeiçoamento contínuo. Vai daí que, em Mato Grosso, quando nos bater no peito aquele desânimo diante dos vícios eleitorais que marcam a escolha de nossos políticos, poderemos dizer, com um sorriso no canto dos lábios: pelo menos, temos aí o Pedro Taques. Quer dizer, agrada ao eleitor minimamente consciente a certeza de que poderá colocar na urna um voto limpíssimo: Pedro Taques, político cabacinho. Mesmo aquele que se dispõe a votar nos maiores cafajestes, poderá “lavar” seus votos, declarando: votei naquele marginal para federal, naquele pilantra para estadual, porque faço parte de uns esquemas aí mas, para senador, meu voto foi pro homem que prendeu o Arcanjo.
Já tive oportunidade de escrever que o primeiro ato de grandeza desta campanha coube ao nosso estreante: Pedro Taques declarou que pode até acabar não sendo candidato, se o seu candidato a governador, o Mauro Mendes, insistir em colocar no mesmo palanque, o deputado José Riva, do Partido Progressista. Manda a velha regra de que “voto e apoio não se rejeita”. Pois o Pedro Taques teve a coragem de dizer que de Riva não quer apoio e muito menos companhia. Isso introduz uma nova lógica na eleição. Tem muita gente que, nos bastidores, diz que Riva é um ficha suja mas que, por causa da enorme trupe que cerca o presidente da Assembléia, acaba lhe fazendo elogios em manifestações públicas. Pedro Taques pôs em xeque esta lógica. Mas, alguns dias depois, me parece que, tratando do mesmo assunto, o ex-procurador soltou uma frase contraditória. Eis o que ele disse, lá em Ribeirão Cascalheira, em ato que teve o patrocínio da Assembléia e, indiretamente, de Riva: “Nada tenho contra o pecador mas, sim, contra o pecado”.
Quando a pessoa começa a soltar estas frases feitas é certo procura driblar a pergunta. O papel educativo que Pedro Taques tem a cumprir nesta campanha não permite que faça pronunciamentos dúbios. Quando era ainda procurador e estava se transferindo para São Paulo, Taques foi alvo de homenagem dos comerciantes de Cuiabá. Lembro de ter comparecido à cerimônia e de ter visto o Pedro, ao lado do empresário Roberto Lebrinha, pronunciando uma frase lapidar: “Saio triste de Mato Grosso porque não consegui extirpar o braço político do crime organizado.” Recordo-me que o Gilson de Barros, o Hulk da política, quando subia num palanque, no início da carreira, costumava dizer cobras e lagartos de Júlio Campos e dos políticos conservadores. Sim, o pai do Saíto punha de lado as gentilezas e chamava Julinho de ladrão, corrupto, safado – e até mesmo de veado, para delírio das platéias desdentadas das periferias. Depois que Dante o apunhalou pelas costas, Gilson passou a xingar também o antigo parceiro.
O que se espera de Pedro Taques é que seja o nosso Hulk nesta eleição, sem a necessidade de recorrer ao palavrão. Sim, se o braço político do crime organizado tem um nome, esse nome precisa ser dito nas esquinas, nos comícios, nos debates, para que o povo perceba que o tempo do medo passou e precisamos, de uma vez por todos, nos livrar do pecado e punir os pecadores. Ou será que Pedro Taques não tem nada contra pecadores impunes?
* ENOCK CAVALCANTI, jornalista, é titular do blogue www.paginadoe.com.br
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