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Opinião
Quarta - 07 de Abril de 2010 às 16:38
Por: Kleber Lima

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Já dizia Karl Marx que a história se repete uma vez como farsa, noutra como tragédia. A frase vem a calhar para demonstrar o critério de democracia partidária adotado pelo PSDB de Mato Grosso. Acompanhe o raciocínio.

O partido estava até uns 30 dias atrás sem ter um nome sequer interessado em disputar uma das duas vagas ao Senado este ano. Num quadro político e eleitoral sombrio para o partido, com chances reduzidas de vitória, ninguém se habilitava a encarar a disputa. Antero Paes de Barros, ex-senador, tinha sido estimulado, mas se recusou peremptoriamente, alegando que seu projeto era disputar uma vaga na Assembléia Legislativa.

Foi então que Luiz Soares, entre outras coisas, ex-vice-prefeito de Cuiabá, ex-secretário de Saúde por duas ocasiões, ex-deputado estadual, e ex-senador - tendo assumido exatamente na vaga de Antero -, procurou o partido e se inscreveu oficialmente como pré-candidato.

A partir desse momento – e também com a chegada da informação de que o Diretório Nacional estava disposto a financiar candidaturas ao Senado nos estados este ano - houve uma repentina mudança de ânimos no tucanato. A ponto do ex-prefeito Wilson Santos, durante entrevista concedida à Rádio Cultura, no dia 29 de março, num ato de extrema deselegância com Soares, um dos fundadores do PSDB em Mato Grosso, afirmar categoricamente que o candidato a senador pelo partido este ano era Antero Paes de Barros “e ponto final”.

A declaração teria passado em brancas nuvens, não fosse o fato de o partido não ter decidido nada a esse respeito, e principalmente ao fato de ninguém do partido ter informado a Soares que ele não seria mais candidato, por decisão do então prefeito. A declaração significou uma tentativa de veto sumário de Santos a Soares.

No dia seguinte, Soares, convidado pela rádio, concedeu outra entrevista, na qual afirmou que só deixaria de ser candidato se essa fosse a decisão da convenção do partido, e advertiu Wilson Santos de que ele tinha poder de mando e de veto na prefeitura, na condição de prefeito, mas não tinha esses poderes no partido, onde as decisões são colegiadas.

Ato contínuo, um desses coletivos partidários, a Executiva Estadual se reuniu na última terça-feira (06.04) e considerou legítima tanto a postulação de Soares como a de Antero. Deliberou que iria consultar os demais partidos aliados, e, havendo mais de dois postulantes, adotaria o critério de pesquisa quantitativa para escolher os dois nomes que irão à disputa. Essas considerações foram transformadas numa nota oficial, aprovada à unanimidade dos noves membros presentes, pela Executiva Estadual.

Estranhamente, todavia, a nota sumiu. Não foi divulgada, como deveria. Só foi divulgada ontem, mais de 24 horas depois de aprovada. Enquanto isso, paralelamente, segundo fontes tucanas inquestionáveis, Antero teria iniciado um processo de tentativa de “convencimento” de Soares para dissuadi-lo de disputar uma das vagas. Mas um convencimento golpista, feito sobre pessoas que ele consideraria ter influência sobre Soares, menos o próprio.

Esta história repete, mais ou menos com as mesmas nuances, fato ocorrido em 2002, quando o partido, com participação destacada de Antero, rompeu acordo que garantia a vaga de candidato a governador pelo partido ao então prefeito de Cuiabá, Roberto França. Romperam o acordo com França e tomaram-lhe a vaga a fórceps, este deixou o partido e foi apoiar Blairo Maggi. O final daquela história todos já conhecemos: o PSDB teve a derrota mais acachapante de sua história em Mato Grosso, perdendo não apenas o governo com Antero, mas também uma eleição ganha ao Senado com Dante de Oliveira.

Como se vê, a democracia partidária tucana é construída de golpes e rompimento de acordos com seus próprios militantes. Em 2002 a “democracia” tucana terminou em tragédia. Em 2010, ela começa como uma grande farsa. Mas, é didática a nós outros, não tucanos, simples eleitores: se o partido não consegue respeitar os acordos que mantém com seus próprios militantes, como poderá honrar os compromissos com a sociedade?!

 

(*) KLEBER LIMA é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br.



Autor

Kleber Lima

KLEBER LIMA é jornalista e secretário de Comunicação da Prefeitura de Cuiabá

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