A mídia pede socorro
Imagine a cena: o Presidente da Republica em seu palácio reúne a mídia do país, agonizante por falta de dinheiro, e pergunta quanto é necessário em dinheiro para que ela não vá àbancarrota.Três bilhões de euros, de uma só vez, para salvar os órgãos de comunicação da França. Foi quanto autorizou o Presidente Sarkozy ao tesouro Francês. Sabemos, ele, o povo francês, e nós que a república francesa jamais verá este dinheiro de volta. E não vai demorar muito para se constatar que grande parte dos “ ajudados” naufragaram e os que ficaram vão precisar de ajuda financeira outra vez, logo, logo. É calamitosa a situação da mídia, na França, especialmente a mídia impressa. Outrora baluartes de vendas, ícones de circulação, e de opinião também, jornais como Le Monde, LeFígaro, LeParisien, Liberation,
L!Express, L!Humanité, claudicam em tiragens cada vez menores. E olha que a França está no rabo da inclusão digital na Europa. Mas a internet fere de morte todos os meios de comunicação franceses, assim como em todo o mundo.
Corta para o Brasil. Três bilhões de euros são mais de 7 bilhões de reais, algo como 4 bilhões de dólares. Quanto em reais o governo brasileiro investe, doa ou ajuda a mídia no Brasil? Ninguém sabe. Mas pelo que se sabe, os números daqui não estão longe dos números franceses e com um agravante: no Brasil a ajuda vem todos os anos. Somente o governo federal, oficialmente, reconhece que sua verba de publicidade, anual, está em torno de 2 bilhões de reais. Acredito que seja muito mais, pois só estão computados aí os números das verbas de publicidade autorizadas por processos licitatórios para a publicidade institucional. Se juntarmos os números do governo federal em COMUNICAÇÃO, mais a chamada publicidade legal, mais os números dos estados e municípios , mais os gastos dos poderes legislativos e judiciário, em suas esferas federais, estaduais e municipais de publicidade institucional e legal,ultrapassaremos com folga os números franceses. Isso sem contar os incentivos e a elisão fiscais.
Empresas de comunicação, mídia, gozam de um sistema tributário especial, particularmente as editoras. Se estes números forem traduzidos em termos matemáticos ficarão assustadores. Sem contar também com o custo das empresas de comunicação do próprio governo. Mas é o preço da “liberdade” de informação. Sem essa “ajuda”, a imprensa sucumbiria. Sem a participação publicitária dos governos, federal, estadual e municipal, a maioria da mídia no Brasil já teria morrido. Ela não suportaria os seus custos unicamente com as verbas do setor privado. Isso traz problemas no que diz respeito à qualidade e independência da informação. Governos são fortes e sabem pressionar para fazerem valer seus pontos de vistas. É uma eterna luta de gato e rato. Hoje é assim que funciona. Se você prestar atenção e passar a observar a quantidade de publicidade dos governos vai tomar um susto.
No Brasil os governos anunciam para tudo, até o legislativo faz campanha de publicidade. Não deveria ser assim, governos se fazem comunicar pela eficiência na prestação de seus serviços. Eles não deveriam ter anúncios institucionais como a empresa privada vendendo sua marca. Governos se vendem por si só, nas esquinas, quando funcionam. Quando interessam à massa, informações governamentais deveriam ser veiculadas de graça. A Lei manda que o balanço anual da empresa estatal seja publicado em um só jornal de grande circulação no município onde está a sede da empresa. Pois saiba que todos os jornais do eixo Rio- São Paulo - Brasília, este mês, ficaram muito agradecidos à Casa da Moeda do Brasil, portanto ao governo, quando fez publicar seu balanço em todos eles. Esse é só um exemplo do que acontece diariamente aqui entre nós.
Hildeberto Aleluia é jornalista
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