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Opinião
Terça - 16 de Março de 2010 às 18:01
Por: Ricardo Loureiro

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Estatísticas do Banco Central mostram que, nos últimos cinco anos, o número de brasileiros com dívidas superiores a R$ 5 mil passou de 10 milhões para 23 milhões. Este aumento do endividamento é coerente com a evolução da relação crédito/PIB, que era de 28,1% em 2005, fechou 2009 em 45% e a previsão para 2010 é que alcance 50%, ainda pequena na comparação internacional. A maior oferta de recursos, sobretudo para o crédito imobiliário, veículos, cartão de crédito e consignado justificam o desempenho verificado.

O fato de ter cada vez mais pessoas usufruindo do crédito é muito positivo, porque se traduz em melhor qualidade de vida, aquisição da casa própria, educação e realização pessoal e familiar. Mais, torna o Brasil o sétimo  principal mercado consumidor do planeta, com a perspectiva de, em breve, ser o quinto. É por conta do crédito que o país é o segundo mercado mundial em aquisição de forno microondas, o quinto em computadores pessoais, o sexto em números de passageiros de cruzeiros marítimos, entre outros destaques.

Para a economia, o crédito promove um círculo virtuoso, que começa no financiamento do consumo e daí para a produção, gerando  empregos, ampliando a renda, com disponibilidade para a poupança e, novamente, para o consumo, resultando no crescimento econômico.

No entanto, essa dinâmica do crédito só é possível com o risco dimensionado e bem gerenciado, fatores que promovem a qualidade do crédito. No caso oposto, em que o risco não é mensurado e não há sua gerência eficaz, a cobrança de juros elevados é um repasse da expectativa de perda futura às novas transações, em que o bom pagador paga pelo mau, independentemente de sua reputação creditícia. Dessa forma, os juros funcionam como um seguro financeiro contra a inadimplência e, no final, quem paga essa conta são os bons pagadores, que acabam tendo acesso a um crédito cada vez mais caro.

A atual metodologia de concessão de crédito, baseada nas informações negativas, é imperfeita, ultrapassada e não está em consonância com a sofisticação financeira do mercado brasileiro. Para ilustrar o risco que se assume diariamente no crédito, as estatísticas oficiais mostram os dados do sistema bancário e não se sabe o quanto um cidadão tem de dívidas no comércio, em serviços etc. Assim, muitos consumidores podem ter os R$ 5 mil dentro de seu limite de crédito. Outros, porém, já estão superendividados e com alta probabilidade de inadimplência. Como os concedentes não têm como diferenciá-los, dá-se mais crédito a estes consumidores endividados, tornando sua condição pessoal mais difícil e ampliando o risco nos negócios. 

A ruptura do presente modelo, genérico e impreciso de avaliação do risco é necessária e urgente. A implantação do cadastro positivo é determinante, porque leva a apuração do risco à esfera individual. Como modelo estatístico de apoio à decisão de crédito, o cadastro positivo é abrangente ao considerar a posição de todos os compromissos assumidos pelo consumidor, em todos os setores econômicos. A partir dos hábitos de pagamento, é conhecido o risco individual, que abre espaço para a prática de juros individualizados. Com a composição dos riscos individuais se tem o risco coletivo.

É interessante notar que, em grande parte dos casos, os países que adotaram o cadastro positivo migraram do  sistema negativo de informações de crédito. Algumas economias partiram para o positivo numa situação extrema, no pós-crise de uma inadimplência generalizada, como Hong Kong, Coréia do Sul e Tailândia. Outros tiveram o positivo por meio de um ato legal.  Como se vê, a decisão pelo cadastro positivo pode ser por diversos motivos. O mais razoável é que seja por um processo evolutivo.

Para os negócios, o cadastro positivo é uma ferramenta única, que amplia a confiança e a segurança nas transações, aumentando a rentabilidade das empresas. 

Do lado do consumidor, diferentemente do que acontece hoje, onde ser bom ou mau pagador tanto faz, porque se pagam juros elevados de qualquer maneira, com o cadastro positivo o consumidor se envolve com sua reputação no crédito, que pode lhe reverter em empréstimos e financiamentos mais baratos. O cidadão percebe que há uma grande vantagem em ser bom pagador. O superendividamento desaparece, porque quem concede crédito conhece a posição tomada do consumidor e este cuida de sua reputação creditícia. Fica para trás o modelo injusto de proteger e criar referência no inadimplente.

Com risco melhor dimensionado e consumidor financeiramente responsável há redução dos juros individuais e sistêmicos, em benefício da sociedade. Com juros mais baixos, há mais investimentos produtivos. Além disso, segurança e transparência no crédito são fatores de atração de investimentos externos. Por isso tudo, o cadastro positivo é praticado nas economias mais desenvolvidas do mundo e em mais uma centena de países.

Nessa direção, o crescente endividamento do brasileiro, sem o cadastro positivo, com 23 milhões de pessoas devendo mais de R$ 5 mil pode ser uma boa notícia ou não, que só se saberá no futuro próximo.


(*) Ricardo Loureiro – Presidente da Serasa Experian 



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