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Onde Está o Erro?
Outro dia, três pais conversavam animadamente. Falavam sobre a família. Esse bem social necessário. Lá pelas tantas, o papo se restringiu aos filhos. Aos seus, dos amigos e de todos aqueles que, como eles, os pais, são da geração que se formou no período burocrático-militar. Período em que a liberdade foi ceifada e o direito de participação dos negócios públicos, ignorado. Cresceram, pois, em meio à censura e a contracultura. O resultado não poderia ser outro senão adultos comprometidos com o viver livre, meio utópico, porém desconhecedores de como chegar a tal vida, se é que exista algum caminho. Sua prole, desse modo, nasceu e se fez grande entre a dúvida e a incerteza, intermediada pelo “tudo pode” e o nada é “proibido”.
Quadro complicado. Desenhado por pais baratinados, ainda que sem os efeitos das drogas, mas movidos por um estado de exceção, a qual chega a ser tão perverso quanto ao primeiro. Isso explica o desequilíbrio na hora do vôo dos filhotes. Mesmo assim, ganharam o mundo, destacando-se nas profissões que escolheram, e até fizeram boas escolhas como esposas e esposos. Glamour marcou as datas dos casórios. Não foram poucos os que disseram: “minha filha teve um casamento de princesa”. No entanto, menos, ou um pouco mais de um ano, o enlace matrimonial estava desfeito. O bom filho, ou a boa filha a casa retorna. Na maioria das vezes, com o rebento de lado.
Nessas horas, “a casa jamais deve ficar fechada”. Ponto de concordância daqueles pais, agora avós, que estavam a prosear. Mas uma indagação, entretanto, os atormentava. Certamente, hoje em dia, os atormenta, a saber: “onde erramos?” Pergunta oportuna e pertinente. Sobretudo quando se sabe que, em outras épocas, nas dos ditos pais, inclusive, a expressão “quem casa quer casa” é muitíssimo sugestiva. A ponto, por exemplo, de qualquer um deles, mesmo descasado, tratava de dar um jeito, sem, contudo, apelar para o “lar paterno-materno”.
Hoje, seus filhos, entretanto, fazem o caminho inverso. Diante do primeiro obstáculo conjugal, correm apressadamente para “debaixo das asas” dos genitores, e dessas não querem arredar o pé.
Os pais até que gostam desse retorno. Embora continue a perguntar a si próprios, “onde erraram?” A respeito, existe uma porção de respostas. Nenhuma delas, entretanto, os satisfaça de pronto. O certo, porém, é que deram asas aos filhos, sem se preocuparem com a rota a ser seguida.
Contudo, é preciso acrescentar, a família, tanto do marido como da mulher, tem uma contribuição enorme para o fim do relacionamento. Isso porque telefona quase diariamente para filha ou para o filho, mesmo que para falar de um pequeno corte na pata dianteira do cão, ou na tristeza do papagaio, ou na desenvoltura do gato, que aprendeu a dormir no sofá da sala de estar.
Eis, aqui, o grande erro dos pais. Bem maior do que aquela que diz respeito aos limites da liberdade. Aliás, falharam, também, no conceito de liberdade. Pois uma vida a dois deve ser vivida, de fato, a dois, não a três ou a quatro.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
Quadro complicado. Desenhado por pais baratinados, ainda que sem os efeitos das drogas, mas movidos por um estado de exceção, a qual chega a ser tão perverso quanto ao primeiro. Isso explica o desequilíbrio na hora do vôo dos filhotes. Mesmo assim, ganharam o mundo, destacando-se nas profissões que escolheram, e até fizeram boas escolhas como esposas e esposos. Glamour marcou as datas dos casórios. Não foram poucos os que disseram: “minha filha teve um casamento de princesa”. No entanto, menos, ou um pouco mais de um ano, o enlace matrimonial estava desfeito. O bom filho, ou a boa filha a casa retorna. Na maioria das vezes, com o rebento de lado.
Nessas horas, “a casa jamais deve ficar fechada”. Ponto de concordância daqueles pais, agora avós, que estavam a prosear. Mas uma indagação, entretanto, os atormentava. Certamente, hoje em dia, os atormenta, a saber: “onde erramos?” Pergunta oportuna e pertinente. Sobretudo quando se sabe que, em outras épocas, nas dos ditos pais, inclusive, a expressão “quem casa quer casa” é muitíssimo sugestiva. A ponto, por exemplo, de qualquer um deles, mesmo descasado, tratava de dar um jeito, sem, contudo, apelar para o “lar paterno-materno”.
Hoje, seus filhos, entretanto, fazem o caminho inverso. Diante do primeiro obstáculo conjugal, correm apressadamente para “debaixo das asas” dos genitores, e dessas não querem arredar o pé.
Os pais até que gostam desse retorno. Embora continue a perguntar a si próprios, “onde erraram?” A respeito, existe uma porção de respostas. Nenhuma delas, entretanto, os satisfaça de pronto. O certo, porém, é que deram asas aos filhos, sem se preocuparem com a rota a ser seguida.
Contudo, é preciso acrescentar, a família, tanto do marido como da mulher, tem uma contribuição enorme para o fim do relacionamento. Isso porque telefona quase diariamente para filha ou para o filho, mesmo que para falar de um pequeno corte na pata dianteira do cão, ou na tristeza do papagaio, ou na desenvoltura do gato, que aprendeu a dormir no sofá da sala de estar.
Eis, aqui, o grande erro dos pais. Bem maior do que aquela que diz respeito aos limites da liberdade. Aliás, falharam, também, no conceito de liberdade. Pois uma vida a dois deve ser vivida, de fato, a dois, não a três ou a quatro.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
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