2010 é o ano da mulher
O mês de março é simbólico para nós mulheres, quando comemoramos o Dia Internacional da Mulher – 8 de março – uma data peculiar, de lutas e simbolismos. A Mulher tem sido tema de discursos e artigos, principalmente em virtude de 2010 ser um ano eleitoral, onde teremos várias mulheres disputando – potencialmente – a vaga a Presidente da República do nosso País. Com base nisso, resolvi fazer uma pesquisa simples na internet sobre a relação “mulher” e “eleições” e deparei com manchetes, no mínimo, questionáveis, como: “Fulana é a única candidata mulher a concorrer às eleições”, “Representatividade pequena de mulheres nas eleições da cidade tal”, “Cotas de mulheres não é preenchida” e muitas outras. É lastimável ler este tipo de notícia, em tempos que a mulher conquista espaço na área profissional e familiar. E por que não ocupar no meio político?
A resistência feminina na política é antiga, desde 1922 quando Bertha Maria Júlia Lutz, uma das pioneiras nessa batalha pela igualdade de direitos entre homens e mulheres, representou as brasileiras na assembléia-geral da Liga das Mulheres Eleitoras nos Estados Unidos, onde foi eleita vice-presidente da Sociedade Pan-Americana.
Ao regressar a nosso país, Bertha Lutz criou a Federação Brasileira para o Progresso Feminino a fim de continuar a luta pela extensão de direito de voto às mulheres, até o decreto ser sancionado por Getúlio Vargas.
Na política, já fomos tardias. O voto feminino no Brasil só passou a ser obrigatório a partir de 1946. Um momento que deve ser lembrado, uma vez que até hoje as mulheres ainda encontram dificuldades de serem inseridas na área. As poucas que conseguem “politicar”, muitas vezes, encontram obstáculos de se manter. Precisamos alterar esta lógica de que política é coisa de “macho” neste país.
Estamos às vésperas do pleito e os partidos começam suas convenções e escolhas de candidatos e candidatas. Quero conclamar mulheres e homens para conscientizarem que este é o ano feminino na política. Temos que levar este quadro para estados e municípios.
O voto feminino foi garantido, no entanto, a cidadania não. Muitas mulheres são excluídas do processo eleitoral, simplesmente pelo preconceito ainda teimoso em existir. Não se candidatam, não ousam entrar neste meio. São desestimuladas a participarem dos pleitos. Aquelas que rompem a barreira para serem candidatas, sofrem com a falta de apoio, falta de estrutura e recursos financeiro e humano.
Soa paradoxal que sejamos maioria na hora de votar (somos mais de 50% do eleitorado brasileiro) e minoria na hora de representar e sermos representadas nas diferentes esferas de poder. Algumas pesquisas revelam que as mulheres nem sempre votam em mulheres. O motivo, muitas vezes, é cultural. Não estamos acostumadas a ver mulheres candidatas e muito menos, no exercício do poder.
Nada melhor que uma mulher no poder para entender as necessidades humanas. Afinal, somos mães de homens e de mulheres, sem pré-conceitos. Conscientizar-se de que somos pouco representadas na vida pública é um começo. Projetos de lei para garantir nossa permanência no poder político do país estão em andamento, mas é preciso que a cultura seja modificada.
Pequenos avanços diante de um caminho tortuoso e longo, mas que é preciso fazê-lo. Em pleno século XXI, o sexo feminino tem que sair de sua condição secularmente oprimida e marginalizada para entrar para a história dos direitos humanos.
A lei de igualdade de voto ajuda, a Constituição Federal também ajuda, mas o que é necessário, o que é preciso, é a quebra do preconceito, a quebra de uma cultura machista.
Há tempos nós mulheres lutamos por isso, por uma posição na política brasileira. Este ano, as eleições estão aí. A mulher na política tem sido o tema principal, já que teremos, pela primeira vez, várias candidatas potenciais do sexo feminino concorrendo à vaga de Presidente da República. É a chance de fazermos a diferença. É uma conquista! 2010 é o ano da mulher na política!
* Serys é 2ª Vice-Presidente do Senado Federal e Senadora da República do PT por Mato Grosso
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