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Opinião
Terça - 02 de Março de 2010 às 09:40
Por: Lourembergue Alves

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“Estranha-se”, e muito, “o bate-boca entre o governador e o senador-democrata”. Frase instigadora que chegou a esta coluna, via e-mail. Estranhamento não de todo equivocado. Ainda que se esteja em ano político-eleitoral, e esses dois contendores se encontram em lados opostos. Não deveriam estar. Pois, até outro dia, ambos faziam parte do mesmo bloco. Aliás, não se pode perder de vista que o DEM, ex-PFL, apoiou a eleição e a reeleição do atual ocupante da cadeira central do Palácio Paiaguás, e este, por sua vez, contribuiu sobremaneira pela eleição do várzea-grandense ao Senado.  

Apoio significativo. Sobretudo o de 2002, quando o “rei da soja’ não passava de “um ilustre desconhecido”. Embora ele tenha estado antes, por quatro meses, no Senado, em razão da licença do seu titular, o também democrata e forte aliado do setor econômico em que saiu o governador. 

Percebe-se, aqui, uma forte ligação entre Jayme Campos e Blairo Maggi. Ligação mediada e articulada pelo senador Jonas Pinheiro, já falecido. Aliança amarrada, no entanto, por apenas interesses econômicos e de poder. Daí a sua fragilidade. Uma fragilidade que se vê escamoteada pelos cargos públicos ocupados por gente ligada tanto ao senador quanto aos seus colegas de partido. Não se trata de secretaria alguma, mas sim de postos do segundo e terceiro escalões. Mesmo assim importantes, uma vez que servem para acomodar cabos eleitorais, agora pagos com o dinheiro do contribuinte. Daí porque os quatro deputados estaduais democratas relutam em entregá-los ao governador. Nem este se mostra interessado em reavê-los. Principalmente porque sabe, tanto quanto aqueles, da relevância dos cargos como moedas de troca. Inclusive na relação direta entre parlamentares e a chefia do Executivo estadual. 

 É lengalenga, portanto, a defesa da entrega dos cargos. Pelo menos até o final de março, quando o empresário-governador renunciará para disputar uma das duas vagas do Senado. Até lá, entretanto, muito se ouvirá a respeito dessa história, que está mais para um episódio folhetinesco que para uma jogada de marketing, ou mesmo uma cartada decisiva no tabuleiro de xadrez da política regional.
Assim, os dois contendores blefam, e o fazem de forma tão amadora, que faz o eleitor duvidar de suas habilidades como agentes políticos. Blefam, inclusive, quando posam de adversários.

Embora se possam ver do lado do democrata-senador, críticas fortíssimas e acertadas ao governo, que ele próprio ajudou a eleger e a compor, e por parte de quem está à frente das rédeas da administração regional, sem argumentação para contrapor aos ataques que recebe ou despreparado para o debate, contentando-se tão somente em classificar os referidos ataques de “discursos vazios e de bravatas”.

Tudo isso faz parte do jogo. Jogo que não teve o seu pontapé inicial. Mas os pretendentes há muito, já estão a campo, em plena campanha. Explicam-se as denúncias mútuas e toda a encenação para cativar a platéia. Somente a Justiça Eleitoral finge não ver. Deve-se, então, estranhar o comportamento da Justiça. Porém, jamais o bate-boca entre os políticos. Sobretudo quando se sabe que, na luta pelo poder, os amigos de ontem podem tornar-se adversários de hoje, ou vice-versa.   
               
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.     


Autor

Lourembergue Alves

LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e articulista

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