O Seduzir e o Convencer
Já se sabe quais os candidatos que disputarão a prefeitura da Capital mato-grossense. Nem mesmo as especulações a respeito servem-lhes de escudos. Ao contrário. Deixam o cenário dos postulantes mais transparentes. As convenções apenas vão ratificar os nomes que se têm como certos. Pois elas refletem as vontades dos coronéis, que foram expressas antecipadamente. Nenhuma surpresa. Tudo nos conformes. Inclusive na campanha vindoura, que deverá ser norteada por ataques pessoais e pela ausência de propostas.
Falta que reflete o despreparo. Despreparo que é estendido a todos os políticos da terra. Isso, também, por culpa de suas próprias agremiações, as quais sempre deixaram para segundo plano os problemas da cidade. Deixar, talvez, não seja o verbo adequado. Pois só se ignora aquilo que conhece, e este não é o caso das siglas partidárias. Estas, aliás, nada sabem sobre Cuiabá. Não sabem, e nem querem tomar ciência das realidades locais. Daí a ausência de simpósio que tivesse a Capital como tema. Seus desleixos são tanto que, sequer, um único estudo foi encomendado.
Assim, seria algo de outro mundo esperar alguma coisa de interessante nos discursos dos candidatos ao Executivo cuiabano. Se é que se pode chamar de discurso um amontoado de palavras, cujo alinhamento se transforma em um rosário de promessas. Prometido que jamais se cumprirá. Ainda que se tenham possibilidades para tal. Possibilidades que sempre se “desmancham no ar”, ao som da falta de “vontade política”. Duas palavrinhas, estas últimas, que passaram a ter uma conotação que, de fato, não tem. Curiosamente utilizadas a torto e a direito. Sobretudo por quem desconhece o poder da argumentação. Ainda que saiba a importância da persuasão, porém esta foi transformada em sedução. Certamente porque, aqui, segundo o dicionário português, o seduzir é o “persuadir ardilosamente ao erro”. O que explica o uso em demasia das imagens e de gestos nos programas radiofônicos e televisivos do horário político-eleitoral.
Seduz, sem, contudo, convencer a outrem. Até mesmo em razão da palavra desprendida do real. Ainda que se fale dos problemas da saúde, da insegurança e da educação. Mas sempre será um falar desprovido do conhecimento de causa, onde prevalecem o botar defeitos, o qual está muito longe da manifestação crítica. Pois tal manifestação requer estudos prévios, e estes possibilitam o conhecer, no seu sentido verdadeiro. Algo que está bastante distante da vida partidária. Vida partidária que, aliás, também pode ser discutida, uma vez que nem todos os filiados devem ser considerados militantes do partido. Os militantes, verdadeiramente, são pouquíssimos, e, curiosamente, sem voz e vez. Tanto que nenhum parlamentar federal do Estado se encaixa neste grupo.
Isso é ruim. Bem mais do que se pode imaginar. Embora possa explicar a deturpação do papel das siglas. Agora reduzida a trampolim de atores, cuidadosamente instruído a dizer aquilo que a população quer ouvir. A aparência ganha, neste roteiro, um significado extraordinário. Vem dele o “parecer-se novo”, ainda que não seja, e o apresentar-se como “não político profissional”, mesmo que tenha se destacado no privado graças à “mão invisível” do Estado.
Situação tragicômica. Agravada quando a discussão política se perde no debate sobre nomes, pessoas, jamais a respeito de idéias, propostas e projetos – até mesmo pela ausência de estudos realizados pelos partidos.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.aloves@uol.com.br.
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