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Opinião
Terça - 19 de Janeiro de 2010 às 02:45
Por: Lourembergue Alves

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O Rio de Janeiro é, de fato, uma cidade muito bonita. Mas cheia de contraste. Talvez, por isso, se assemelha bastante com o Brasil. Um país onde a riqueza tem como vizinha a pobreza; o progresso faz parede e meia com o atraso; e o crescimento, vez ou outra, se vê frente a frente com o acanhamento. Características registradas, igualmente, na “Cidade Maravilhosa”. 

Espremida entre os morros e o mar, ela está cotidianamente no meio de um parigato. Quadro que ora pode aparecer de uma beleza sem igual, ora apresenta traços de feiúra extasiante. Desenhos que estão sempre em choque. A despeito de todo um trabalho de marketing. Este procura realçar tão somente as paisagens bonitas, porém as deixadas debaixo do tapete não ficam totalmente as encobertas. Certamente porque o véu utilizado seja um tanto curto ou, talvez, da mesma forma que as ondas trazem para a praia toda a sujeira recebida pelas águas, aflora também o lado que se deseja esconder. 

Assim é o Rio. Cheio de contrastes. Retratos que se fundem e se entrelaçam. Entretanto, um não consegue sufocar o outro, e vice-versa. De modo que é possível, ao mesmo tempo, se maravilhar com casarões aparentemente bem conservados e se entristecer com alguns deles, cujos estragos revelam o abandono e o desleixo. Ao mudar de foco, o visitante se depara com duas fotos que chocam entre si, a saber: a de casas de luxo e a dos casebres, vistos de longe, parecem se encontrar pendurados nos morros. Duas fotografias que se somam ao do lixo jogado pelos logradouros, cujo odor transmite uma sensação desagradável. A mesma que se tem, por exemplo, quando se passa pelas ruelas que contornam a rodoviária “Novo Rio”. Muitíssimo diferente das encontradas nos bairros destinados as elites. São construções com todo requinte de bom gosto, embora erguidas sob o signo do modernoso, que se contrapõem, ainda que não se queira a luxuosidade e os adornos das antigas. Antigas mas não velhas. Apesar de que a falta de cuidados com essas últimas pode torná-las velhas, bem como com os arranha-céus.

Em meio a isso, encontram-se os mendigos. São pessoas frágeis não necessariamente pelos anos vividos, mas pelo estado em que se encontram. Pois dormem mal e se alimentam quase sempre de restos de comida achadas na lixeira. Espetáculo, se é que se pode denominar desse modo, que se completa com as pessoas, bem vestidas ou não necessariamente, em volta das mesas dos bares e restaurantes, envolvidas com uma boa prosa, no instante em que se deliciam com aquilo que o dinheiro lhes pode proporcionar, acrescido da percentagem do garçom, uma aberração em moda; enquanto do outro lado do vidro ou da calçada, gente faminta os assiste. 

Situação vexatória. Não só para os atores presentes ali. Mas, igualmente, para uma sociedade que sustenta mordomias no Judiciário, Legislativo e Executivo. Além, é claro, banca a conta gerada pela corrupção. Modalidade institucionalizada em todos os poderes da República. E ainda se deixa levar pelo discurso dos governos, altamente engajados no oba-oba do Bolsa Família. Tanto que, em ano eleitoral, a oposição sequer pensa em projeto alternativo de administração. Teme ser reprovado nas urnas, caso o tal projeto seja interpretado, pelo eleitor, como um ataque as ações, nem sempre boas, do atual presidente. Prefere, portanto, escamotear as injustiças. Ainda que ao fazê-lo, esteja ampliando o injusto, em total desacordo com o que diz o artigo 3º. da Constituição Federal, cujo teor não passa de letra morta. 

Uma vez mais, o Rio está em plena sintonia com o Brasil. Os contrastes os unem e os fazem tão parecidos.         

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.


Autor

Lourembergue Alves

LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e articulista

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