Um diferencial de formação
A propósito de artigo recente escrito neste espaço sobre formação profissional da nossa juventude frente ao novo mercado de trabalho estadual, recebi este e-mail, que transcrevo na íntegra, a título de fomentar a discussão. É um relato muito importante.
Eu estudei dois anos no Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Cambridge, entre 1980-1982 e tenho o grau de M.S. in Civil Engineering”de lá. Tenho um outro mestrado, dessa feita na COPPE/UFRJ, também em Engenharia Civil. Foi anterior, entre 1976-1978. Minha vida profissional pode ser classificada como sendo amit and pmit, ou seja, antes e depois do MIT.
Qualquer pessoa que se qualifique para estudar naquela instituição passará a ser diferente depois de sair de lá. Aprendi muita tecnologia obviamente, mas também lições de vida, disciplina e que não se fabrica bons estudantes com cotas para minoritários, tais como o nosso querido presidente Lula deseja. Lá, como nos falou no primeiro dia o reitor, o método de ensino é simples: são professores excepcionais, estrutura de ensino excepcional e APERTO!!! Simples assim...
Recentemente o MIT recebeu a honraria de ser considerada a melhor instituição de ensino do planeta. Não sem méritos. Lá também aprendi que a competição é dura, desleal e que os métodos para combatê-la passam sempre por muito trabalho e lamentavelmente (ou felizmente) por boas doses de capital. Eu tinha um colega que era um príncipe árabe, chegava em carros caríssimos, com um séquito a lhe proteger e a lhe bajular. Ele descia do carro invariavelmente em um tapete persa, com servos de joelhos a inclinar a cabeça. Era um bom aluno e seus trabalhos eram belíssimos, com uma formatação de causar inveja a qualquer um. Obviamente não era de sua cepa.
No MIT, as notas são relativas à média da turma (se você tirar um 9,0, você será reprovado, pois essa nota enseja um grau D - entre A a F. (A sendo o melhor grau e F o pior), mas 20% de sua nota é para a apresentação do trabalho. Em um determinado fiz um trabalho impecável, gastei um dinheirinho que não dispunha (era bolsista do CNPq) e orgulhosamente entreguei ao professor. Quando recebi a nota (B-) fiquei indignado e reagi indo conversar com o meu orientador (nosso anjo da guarda no MIT).
Ele colocou os dois trabalhos um junto do outro e me falou que eu havia ganhado nota máxima no trabalho (8,0) e pelo meu esforço na apresentação havia me dado 1,5, em outra palavras fiquei com 9,5 (isso pela média da turma me valeu apenas um B-). E me perguntou: você não daria nota máxima para a apresentação desse outro trabalho?”Isso referindo-se ao trabalho do príncipe.
Falei que não era justo esse critério, ele me falou que o mundo não era justo e que eu poderia tomar várias atitudes: (a) em primeiro lugar, fazer uma petição à direção da escola para que as regras fossem mudadas, esse teria sempre que ser a primeira opção; (b) buscar um investidor institucional para que ele me bancasse nessa fase árida, já que tendo habilidades muito boas, ele poderia me ver como um investimento. Obviamente saí dali com o coração partido, mas diante da lógica cartesiana que me foi colocada, aquilo permaneceu latejando dentro de mim.
Hoje, mesmo sem dispor do dinheiro que seria adequado, estou com alguns projetos fantásticos (alguns para Cuiabá, como o Metrô de Superfície Monorail) e estou buscando avidamente investidores institucionais (bancos, empresas de capital venture, ONG´s e outras) no mundo para que isso seja possível de ser realizado. A frustração daquela época hoje me impulsiona internamente (e intensamente) e não vou conversar com eles como se tivesse com o pires na mão.
Enalteço as qualidades do meu projeto, digo as vantagens que o investidor terá em colocar uma massa tão fenomenal de recursos (US$ 1,2 bilhões) e nada me parece anormal. Posso levar um sim ou um não, mas nada que me diminua pessoalmente em nenhuma das opções. Certamente as lições que meu orientador no MIT me deu valeram... e muito. Voltarei ao assunto.
Onofre Ribeiro é jornalista e secretário Adjunto de Comunicação Social do Governo de Mato Grosso. Contato onofreribeiro@terra.com.br
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