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Opinião
Sexta - 01 de Junho de 2012 às 19:16
Por: Lourembergue Alves

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Do encontro de três ex-presidentes – um deles do país e dois do STF – resultou uma situação que nada se coaduna com o quadro republicano. E mesmo que assim fosse não se deve confundir opinar com pressionar. Embora especialistas considerem natural e normal a manifestação de um “ex” sobre a data do julgamento do mensalão, até em razão do envolvimento de pessoas do seu partido. Neste caso, entretanto, o lugar do dito encontro deveria ser bem outro. Menos, é claro, o escritório particular, que compromete o agente público, o qual também se sente pressionado. Ainda que não haja qualquer comprometimento deste com as denúncias investigadas pela CPMI do Cachoeira. 
 
Quadro comprometedor. Muito mais quando se observa que o interesse público, em nenhum instante, foi levado em consideração. Isso se agrava sobremaneira quando se percebe que os presentes naquele encontro não são nenhum “marinheiro de primeira viagem”, nem quaisquer desavisados – presos às armadilhas do desconhecimento. Ainda que um deles seja leigo na área jurídica, jamais pode se apresentar como um ignorante das coisas que dizem respeito ao bem público. Pois até bem pouco tempo era pago, e muito bem pago para zelar por elas. Mesmo que vez ou outra aparecia com a cantilena do “nada saber”, e agora se mostra no papel para desconstruir o cenário do mensalão, e, assim, “vendê-lo” como falso ou um produto da imprensa sensacionalista.

Nem tudo, porém, um ex-presidente pode realizar. Ainda que continue em alta e carregue na bagagem uma popularidade invejável. Por conta disso, aliás, deveria agir de maneira diferente, sempre preocupado com o expurgo da impunidade, uma vez que esta elimina as chances de se avançar democraticamente, ao mesmo tempo em que destrói qualquer possibilidade de se erguer a coluna de sustentação do Estado de direito. 
 
Crítica que deve ser dirigida igualmente ao ex-ministro da Justiça, e que antes havia passado pela Corte-mor do país. Não por ter cedido o próprio escritório para o encontro, nem pelos préstimos de amigo, mas a sua opção ao interesse particular em detrimento do público. Justamente quem diz ter dedicado grande parte da sua vida pelo país. Certamente ele se refere, aqui, aos anos de parlamentar, de integrante do STF e de ministro de Estado. Passagem rica, porém esquecida nos escaninhos da vida quando participava de uma conversa desnecessária – entre ele, o membro do STF e o ex-presidente da República. 
 
Mais de trinta dias depois, o tal encontro chegou à imprensa. Um tanto tarde, evidentemente. Sobretudo por quem se viu pressionado e sentisse chantagiado. E por sentir-se vítima de notícias falsas sobre conexões que teria com Cachoeira e o senador Demóstenes Torres, o ministro e ex-presidente do STF resolveu revelar parte do conteúdo daquela conversa. Conteúdo, entretanto, negado pelos dois outros participantes. Um deles, por exemplo, via nota, se diz indignado. Curiosamente, quase repetiu a encenação que proporcionou em Paris, quando lhe perguntaram a respeito do mensalão. 
 
Restou, portanto, a certeza de que o tão falado encontro existiu. Eram os mesmos personagens. Mas, talvez, tenham se reunidos para tomar uma cervejinha ou para falar sobre o Corinthians, longe das dependências do Supremo Tribunal Federal e distante dos olhares da população. Existe quem acredita nesta possibilidade. A blindagem começou. Embora os tempos da ingenuidade, há muito, já se foi. Sobraram, então, o ar teatral e todo o quadro maquiado.  


Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br


Autor

Lourembergue Alves

LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e articulista

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