Entre As Rosas e Os Loucos
Barbacena não faz parte do circuito das cidades históricas mineiras. Portanto, não tem porque incluí-la em tal roteiro, a despeito da construção de uma ou outra igreja datar-se por volta do século XVIII. Mas vale muitíssimo visitá-la. No mínimo, duas razões asseguram isso, a saber: a primeira, ela pode servir de elo entre São João Del Rey e Tiradentes. Pólos bastante distantes dos demais, e, por conta disso, dificilmente Belo Horizonte poderia ser a ponte. Sem contar no fato do baixo custo, comparado ao que seria despendido pelo visitante, caso este estivesse hospedado naquelas localidades.
Já a segunda razão. Talvez a mais relevante em termos de ganhos não apenas monetário. Ainda que se esteja bem longe da época das “vacas gordas”, apesar dos discursos sempre “prá cima” do presidente da República. Também a dita autoridade deve primar pelo otimismo. Sobretudo em termos eleitorais, pois trabalha diuturnamente para fazer seu sucessor, apesar da indicada não estar à altura de tão elevado cargo e embora o atual momento seja bem outro, pois o sinal do “epa” há muito se faz presente, contrariando assim o quadro desenhado pelo governo. “O dinheiro está curto”, como se diz lá no interior de Mato Grosso. Isso nos tempos em que os dois Estados mato-grossenses estavam interligados administrativamente e o diamante e o ouro, não tanto fartos. Famílias inteiras da zona garimpeira tiveram que migrar, na busca de melhores dias. Script que se repetiu em várias partes do país, inclusive
Barbacena, então, “fica a ver navios”. Apesar dos pesares, deve-se fazer justiça, essa cidade supera seus obstáculos. Cresce e se mostra com bastante vigor. Até mesmo o deixar de ser a “capital gastronômica”, título que perdeu para Tiradentes, não se constituiu em óbice para o seu progresso, embora lhe tenha tirado levas de turistas por ano.
Por falar em turistas. É preciso acrescentar a segunda razão que se deve visitá-la. Trata-se do museu da loucura. Museu bastante sugestivo. Isso porque Barbacena, que fora conhecida por ser a “Cidade das Rosas”, também ficou famosa pelos seus dez hospícios. Pois seu clima acredita-se, proporcionava o bem-estar dos doentes. Vinham eles de vários lugares. Para tal, viabilizou-se o “trem dos loucos”. “Loucos” que poderiam ser qualquer um, inclusive uma “moça namoradeira”, “abandonada pela família”, “gente drogada”, “alcoólatra” ou “gente que se deixava cair pelas ruas e calçadas”. A discriminação e o preconceito foram à argamassa na qual a sociedade da época assentou os trilhos que desembocavam nos hospitais, em estilo “muito parecido” com os vividos na Alemanha nazista. Histórias que são contadas pelas fotografias, textos, instrumentos de tratamento e por uma ou outra ex-funcionária das instituições. Conjunto que, certamente, leva o visitante a fazer uma série de reflexão, principalmente o do seu papel decisivo nas questões político-sociais.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
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