Um momento de reflexão
Livros e textos, incluídos os disponíveis na Internet, são indispensáveis em uma educação escolarizada. Nenhum deles, entretanto, substitui um passeio pelos locais onde ocorreram os fatos (não se descarta, aqui, o aspecto de complementação). Ainda que se possa contar com as visitações virtuais. Embora estas vendem a sensação do estar.
Mas isso não é o mesmo do que se fazer presente, caminhar sobre as pegadas, por exemplo, dos inconfidentes. As chamadas cidades históricas mineiras são páginas da história a céu aberto. A cada passo dado, uma descoberta, e, a partir desta, a revisão do que se viu a respeito da temática.
Experiência relevante. Imprescindível até. Tem-se a impressão de voltar no tempo, nos anos da extração aurífera e da queda-de-braço entre a elite emergente dessa parte da colônia e a coroa portuguesa. Condição necessária para se ter a derrama, bem como todo o jogo de conspiração. Episódios bastante investigados e analisados, cujos resultados redundaram em teses, e, então, o aparecimento de uma série de questionamentos. Muitos dos quais surgiram na tentativa de derrubar os mitos e heróis massificados com a República. Alguns destes, sem dúvida, foram ceifados; outros, contudo, continuam firmes, tal como o Tiradentes, a despeito das pretensões iniciais de Maxuel, o autor da obra intitulada devassa da devassa.
A documentação da época foi dissecada. Mas não de toda, pois existe uma porção de indagações não respondidas. Assim como também há uma série de perguntas sobre as obras de Aleijadinho.
Por falar no grande artífice barroco do país, não se pode perder de vista a grandiosidade dos trabalhos a ele conferidos. São obras que impressionam pelo seu conjunto, sem, contudo, perder de vista os detalhes registrados em cada uma delas. Os doze profetas erguidos à frente da Matriz de Congonhas do Campo constituem uma idéia do que se pode ver espalhados nas igrejas, construídas em um período em que não havia computador, tampouco a ajuda de outros instrumentos capazes de facilitar o trabalho do artesão.
Os detalhes delas dizem bem mais do que se propôs a encontrar. O mais importante, os ditos fazem parte de um dado contexto, que tem nas construções não só a moldura, mas o complemento ideal. Juntas e entrelaçadas formam um cenário extraordinário, envolvente.
Infelizmente, porém, tal cenário pode ser danificado pelo mercado que se criou. Reconhece, é verdade, que os moradores dos lugares carecem sobreviver. Isso é inquestionável. Discute-se a forma e a maneira com que os quiosques são distribuídos ao longo do quadro.
Quadro atraente, cativante e, apesar dos pesares, relevante a quem se interessa pela história do país, cujas linhas foram escritas também por mãos habilidosas não no lidar com a pena, mas no trabalhar com as peças de madeira e de pedra sabão, assim como igualmente no erguimento de grossas paredes de pau a pique, adobe ou barro socado.
Resultando daí cenas que retratam, e bem, as passagens de um período importante para a compreensão da formação do próprio povo brasileiro. Equivocada, portanto, a tentativa de se deslocar o tal período do presente, aprisionando-o ao pretérito, como fazem muitos dos que se colocam ligados ao hoje. Mal sabem esses que as cidades históricas mineiras, a exemplo das demais espalhadas pelas paragens da terra, podem despertar neles o espírito de brasilidade, tão necessário nesses dias de globalização. Até mesmo para não se perder a referência. Vale, portanto, uma visita por essas bandas, em uma espécie de respirar o clima vivido pelos inconfidentes, escravos e algozes.
LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e articulista político.
lou.alves@uol.com.br
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