Racismo, até quando? No Brasil ele está profundamente arraigado em toda a sociedade.
O Senado Federal manifestou solidariedade esta semana às vítimas racistas no futebol, ocorridas nos últimos dias. A iniciativa do senador Eduardo Suplicy foi motivada depois que o Brasil assistiu estarrecido a cenas envolvendo o jogador Tinga, do Cruzeiro, ofendido em jogo no Chile, às bananas colocadas no carro do árbitro Márcio Chagas da Silva, em Bento Gonçalves (RS), e aos gritos de "macaco" ouvidos pelo volante Arouca, do Santos, em Mogi Mirim.
O senador cobrou punição exemplar para que as agressões racistas não se repitam, pois essas ocorrências são mais comuns do que se imagina no mundo do futebol, atingindo jogadores, árbitros e dirigentes negros, mas os casos dificilmente se tornam públicos.
Mas, não é só no futebol que o racismo vem crescendo. Segundo o relator da Organização das Nações Unidas (ONU), encarregado de avaliar a discriminação no mundo, Doudon Diène, o preconceito é cada vez maior em muitos países. No Brasil ele está profundamente arraigado em toda a sociedade.
O Brasil sempre lidou com o problema do ponto de vista de "vítima", pelos casos de ofensas racistas em campos europeus. É constrangedor e preocupante tomar conhecimento desses fatos no mundo atual. Estamos assistindo à legitimação intelectual do racismo de uma forma que não víamos alguns anos atrás. Julgo oportuno citar Samuel Huntington, professor da Universidade de Harvard, que publicou recentemente o livro Where Are We? ("Onde estamos"), cuja tese principal é que a presença de latinos na América do Norte é uma ameaça à cultura norte-americana. É um livro que legitima a discriminação da população latina nos Estados Unidos.
Discriminar adultos e crianças com base na cor da pele é, além de ultrapassado, inaceitável. Não vamos repetir os nazistas que acreditavam que a história humana era a de uma luta biologicamente determinada entre povos de diferentes raças, dentre as quais os alemães eram a mais elevada, destinada a comandar todas as outras, a "raça superior".
Não vamos repetir o latifúndio escravista como forma fundamental de propriedade, com uma legislação repressora contra os escravos que lutavam sozinhos contra o instituto da escravidão. Não vamos repetir a história do racismo no Brasil a partir da chegada da frota portuguesa comandada por Pedro Álvares Cabral, que tiveram dúvidas em saber se os índios eram seres humanos como os europeus ou bestas - tal como animais sem racionalidade ou alma - motivando especulações científicas e religiosas.
Vamos, sim, combater, com veemência, toda e qualquer tentativa de discriminar. O racismo é uma violência que se expressa de várias formas: na forma de piadas, xingamentos ou até na repulsa ao contato físico com a pessoa. Quando se fala de racismo, o primeiro pensamento que aparece na mente das pessoas é contra os negros, mas o racismo é um preconceito baseado na diferença de raça das pessoas.
Pode ser contra negros, asiáticos, índios, mulatos e até com brancos, por parte de outras raças. Não deixemos que essa praga contamine o país. Justo o Brasil, um país tão acolhedor, alegre e festivo. Vamos exigir tolerância zero para este crime!
As instituições devem ser firmes no respeito à Constituição e às leis. Racismo é crime e não deve ser tratado como uma questão menor. Delegados e agentes policiais devem ser capacitados a tratar as denúncias e não podem ser omissos. O mesmo vale para o Ministério Público e para o Judiciário. E, o mais importante, devemos investir muito em educação.
É por meio da educação que vamos fazer com que as novas gerações consigam superar as ideias tacanhas que alimentam a ideologia racista que ainda vigora em nossa sociedade. Uma educação de qualidade pressupõe também conteúdos antirracistas e o resgate da valorosa história de nossos povos indígenas e da imediata adoção da história africana e dos afrodescendentes em nossas escolas (Lei 10.639 de 2003).
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