Lula, o mensalão e o Supremo
Detentor de uma das mais vitoriosas biografias de todo o mundo – de retirante da seca a presidente da República –, Lula agora é acusado de conspirar contra a Nação para evitar o julgamento dos implicados no “mensalão”, o escândalo ocorrido no seio do seu mandato, onde parlamentares recebiam propinas do erário público para votar a favor do governo. Depois de repetidas vezes dizer que nada sabia sobre o esquema e de, como padrinho, eleger a sucessora, aparece ele tentando interferir pelos errantes, numa ação que contraria flagrantemente a pregação moralista de toda a sua vida e razão de sua escalada.
Apesar de ainda convalescente, o ex-presidente deve urgentes explicações e – mais que isso – a tomada de medidas concretas que esclareçam definitivamente o seu envolvimento no malcheiroso episódio. Se as noticias forem mentirosas, tem de, em respeito à coletividade, desmenti-las e exigir a mais severa punição daqueles que a produziram e divulgaram e, ainda, de deles cobrar indenização. É a única forma aparentemente disponível para se safar do descrédito. O Supremo Tribunal Federal, como instituição colocada na berlinda, também tem de agir para esclarecer o caso e, principalmente, preservar sua credibilidade perante a Nação.
Infelizmente, vivemos uma época em que, mercê de tantos escândalos e da impunidade endêmica, a classe política perece com uma das mais baixas cotações na confiabilidade popular. Esse sentimento afasta da atividade muitos brasileiros que poderiam oferecer grande contribuição para a vida nacional e, com isso, o setor perece, sobrevivendo de escândalo em escândalo, apesar de todas as potencialidades de nosso país.
Lula é uma das estrelas da nova classe política, queiram ou não os seus opositores. Mas isso não o coloca acima do bem e do mal. Tem de ser submisso às leis e aos bons costumes, como todos os cidadãos brasileiros, dos mais importantes aos mais humildes. Não pode, jamais, tentar obstruir a ação da Justiça, única instância de poder que ainda mantém a estabilidade e o ordenamento nacionais, apesar dos problemas que também enfrenta em sua estrutura.
É de se aguardar que Lula venha a público e atue para desfazer e, principalmente, esclarecer o mal estar criado. Quanto ao Supremo Tribunal Federal, é importante a afirmação feita pelo seu presidente, ministro Ayres Britto, a respeito do próprio episódio, de que "ainda está para aparecer alguém que ponha uma faca no pescoço dos ministros do STF”. Mas, especificamente quanto a essa denúncia, precisamos da firme ação institucional da corte, pela guarda do bom nome seu e dos seus integrantes.
O “mensalão” é um dos episódios mais repugnantes da cena política brasileira das últimas décadas. A sociedade espera, com seu julgamento, ter a oportunidade de passar o Brasil a limpo e que cada um dos envolvidos receba a mais justa e severa punição, na medida exata de sua participação e envolvimento...
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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