Números do absurdo Mato Grosso é o Estado com mais corruptos por metro quadrado

Quando comecei a trabalhar com política, em meados de 2010, alguém me disse que, depois de Brasília (onde estão concentrados os políticos de todo o país), Mato Grosso era o Estado com mais corruptos por metro quadrado.

É claro que era uma piada, mas hoje vejo que, se não for totalmente verdade, chega bem perto disso.

Entre as denúncias de corrupção das quais tomei conhecimento neste tempo, a que mais me chama atenção é a que envolve o ex-presidente da Câmara de Cuiabá, Lutero Ponce.

Até fico “bestificada” a cada vez que releio matérias sobre a acusação.

Ex-vereador teria comprado nada mais nada menos que 24,5 toneladas de açúcar. Toneladas! Uma carreta inteira! "(...) é tão absurdo que, aparentemente, os presidentes que sucederam Lutero se sentiram no direito de (supostamente) também desviar verba pública"

E não foi só isso. A compra incluía ainda quase 7,5 mil litros de leite, o suficiente para preencher aproximadamente um quarto de um caminhão tanque.

Também 572 litros de adoçante, o equivalente a 2.860 frascos desses de 200 ml que encontramos nos supermercados, além de 11 toneladas de bolacha.

Tudo comprado de uma única vez para, supostamente, alimentar 19 vereadores, seus assessores e também, quem sabe?, os jornalistas que acompanhavam as sessões à época.

É tão absurdo, que chega a ser engraçado e uma pergunta não me sai da cabeça: como se faz uma compra dessas sem pensar, nem por um segundo, que alguém pode desconfiar desses valores?

E mais: é tão absurdo que, aparentemente, os presidentes que sucederam Lutero se sentiram no direito de (supostamente) também desviar verba pública.

Depois dele, todos foram denunciados por alguma suposta irregularidade envolvendo licitações.

Às vezes, imagino que passou pela cabeça de cada um algo do tipo: “é só não cometer o mesmo exagero que ninguém vai perceber e, se perceber, não vão dar tanta importância porque, afinal, alguém já fez pior”.

O resultado é que, se juntarmos as quatro últimas gestões da Câmara de Cuiabá, quase R$ 13 milhões podem ter sido desviados.

Podem, porque nenhum dos casos foi julgado até hoje. Alguns ainda estão em fase de investigação.

O do próprio Lutero, que presidiu a Câmara entre 2007 e 2008, só começou a ser julgado agora, em 2014.

E essa demora pode ser outro incentivo para esses presidentes que o sucederam!

LAURA NABUCO é editora de Política do jornal Diário de Cuiabá.