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Opinião
Sexta - 16 de Maio de 2014 às 09:59
Por: Rodrigo Rodrigues

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Sou nascido na pequena e simpática cidade de Alto Araguaia. Na divisa entre os Estados de Goiás e Mato Grosso, praticamente na nascente do rio Araguaia. Como em toda cidade do interior, principalmente do Mato Grosso, não existia televisão, rádio dificilmente pegava e cinema era bem precário.

Neste universo que hoje parece tão distante, abusávamos da criatividade, nosso programa preferido era ouvir as histórias de nossos avós, tios e outras figuras amigas. Nessa época tinha lobisomem, mula sem cabeça, saci pererê, neguinho d`água e a terrível mulher do algodão, que tanto nos assombravam na hora de tomar banho, principalmente porque a queda de energia era constante.

Só fui conhecer TV quando nos mudamos para Barra do Garças, já na década de 1980, que era tão rica em suas histórias místicas e indígenas que pouca atenção dávamos aquele aparelho eletrônico.

"Se fosse eu, ou qualquer outra pessoa, o governador, já teria dado o ultimato, já teria enquadrado e acabado com essa promiscuidade eleitoral"

Duas décadas depois surge a internet e a TV a cabo, que proliferaram em escala viral, tomando conta de nossas vidas e nos bombardeando com informações, histórias e fatos, que ao mesmo tempo nos chocam como também nos enchem os olhos de beleza.

O cinema virou uma rotina em minha vida. Pela grande tela fui levado a uma viagem fantástica, do fundo do mar a volta ao mundo em oitenta dias.

Do cinema a leitura foi um pulo. Através dos livros tive a nítida sensação que o conhecimento é infinito.

E foi assim, sempre curioso e bom ouvinte, que pelas rodas de causos, pelos livros, pelo rádio, pela TV e pela internet tive acesso às diversas histórias de nosso mundo, podendo me considerar uma pessoa que já ouvi falar de tudo e que nada mais me espantaria.

Porém, como a vida sempre teima em nos surpreender e em Mato Grosso tem acontecido coisa que até o diabo foge de medo, estou convencido que aqui na terra de Rondon, no centro da América do Sul, entre o cerrado e a mata amazônica, estão inventando um tipo de coisa tão ousada e perigosa, que sem exagero, me dá calafrios.

Esta nova “invenção” fere de morte o estado de direito e a democracia e resgata um viés dos piores regimes autoritários, pois vem camuflada, disfarçada, quase invisível, portanto extremamente maligna à sociedade e, por ser, dissimulada muito difícil de combater, trata-se da “proteção governamental”.

Quando os primeiros imigrantes italianos desembarcaram em Nova York trouxeram na bagagem um tipo de domínio de território no qual aqueles que viviam ou tinham negócios na área eram obrigados a pagar por um tipo de “proteção”. Os criminosos se agrupavam em torno de códigos de fidelidade, honra e obediência. Esses grupos eram chamados de “família”.

Os filmes “Era uma vez na América” e “Poderoso Chefão” nos dão uma boa ideia de como funcionavam essas máfias.

O escritor Mario Puzzo foi mestre em descrever nos mínimos detalhes como era a hierarquia e o “modus operandi” destes bandos de criminosos, que acabaram ganhando certo charme e sofisticação, nos levando a vê-los com certo romantismo.

O fato é que essas “famílias” não tinham, e não têm nada de romântico, são bárbaros, frios e violentos. Exploram pobres coitados e alimentam a corrupção. Comandam os jogos, a prostituição e o tráfico de drogas. Dos imigrantes italianos, passando pelos chineses, pelos russos e agora pelas gangs das periferias, esta prática se alastrou.

No Brasil, o tráfico tomou conta das favelas, criando um poder paralelo, como podemos ver todos os dias nos noticiários. Quando se elimina os traficantes vêm as milícias, formadas pela parte corrupta da polícia. O cidadão tem que pagar pela internet, pelo gás de cozinha e pela TV a cabo e os comerciantes por “proteção”. No modelo siciliano, além de proteção o protegido tinha garantia também de ver seus inimigos e concorrentes fora do caminho.

Mas voltando ao nosso Mato Grosso, que a cada dia nos revela coisas inéditas, estou convencido que aqui está sendo implantado a pleno vapor a proteção governamental.

Como funciona essa tal proteção governamental? Funciona assim: certo candidato da oposição, que detém muita influência junto ao Ministério Público, e a julgar pela ação de alguns de seus membros podemos constatar que isso é real, promete aos detentores do poder que, caso não usem a máquina e sua liderança em favor de seus possíveis adversários, lhes dará proteção, não investigando qualquer mazela cometida em seu governo e não deixando ninguém fazê-lo.

Vocês leitores entenderam a gravidade da coisa?

É mais ou menos assim: “vocês finjam-se de mortos, deixem a coisa correr solta, não se envolvam e eu não botarei vocês na cadeia e, como já negociei uma secretaria com gordo orçamento com um grupo que manda no MP, eles também não irão incomodá-los”.

Basicamente é o mesmo “modus operandi” das máfias tradicionais, a grande diferença, e é ai que mora o perigo, é que nos modelos tradicionais de gangs, máfias e dos traficantes que dominam morros e periferias dos grandes centros, a sociedade sempre terá o poder público, o estado, para recorrer, que sempre que é pressionado toma alguma atitude para inibir estas práticas criminosas e botar na cadeia esses bandidos.

No caso do modelo de proteção governamental, não temos a quem recorrer só nos restando dizer amém e rezar muito para não sermos a próxima vítima.

Delírio meu? Teoria da conspiração? Não, de maneira alguma.

Entra na cabeça de qualquer pessoa que tem o mínimo de inteligência e noção de política o fato do PR, de forma escancarada sentar no colo da oposição? Pode um governador, que é do PMDB, permitir que o PR , que tem cinco importantes secretarias e centenas de cargos, se una à oposição sem retaliação? Pode a maior liderança do PR, o senador Blairo Maggi, que governou o Estado por quase oito anos e elegeu seu sucessor, permitir e até mesmo sentar para conversar com a oposição?

O discurso da oposição diz que os mandatários do poder nos últimos doze anos foram corruptos e incompetentes, sendo comparado ao “novo cangaço” e, sem cerimônia, dizem que está estabelecido o caos moral.

Então o que leva o senador Blairo Maggi, que na boca da oposição implantou o tal “caos moral”, e o governador Silval Barbosa, que segundo a oposição potencializou este “caos”, ficarem tão apáticos e permissíveis?

Não vejo nenhuma força de Silval no sentido de viabilizar uma candidatura forte na base, e o que é pior, não há o menor sinal de retaliação ao PR.

Se fosse eu, ou qualquer outra pessoa, o governador, já teria dado o ultimato, já teria enquadrado e acabado com essa promiscuidade eleitoral, sim, é esse o nome, promiscuidade eleitoral, pois o PR durante o dia é governo até debaixo d’àgua e à noite se alinha à oposição e engrossa o coro das críticas.

"Então o que leva o senador Blairo Maggi, que na boca da oposição implantou o tal “caos moral”, e o governador Silval Barbosa, que segundo a oposição potencializou este “caos”, ficarem tão apáticos e permissíveis?"

O governador Silval Barbosa deve ao PMDB muito mais que fidelidade partidária, pois através de seu presidente regional, deputado Carlos Bezerra, o PMDB nacional conseguiu trazer mais recursos para Mato Grosso, nos seus quase cinco anos de mandato, que toda a bancada na Câmara e no Senado conseguiu nos últimos dez anos.

Deputado Carlos Bezerra, que volta e meia, também é criticado pela oposição, iniciou sua vida política nos movimentos estudantis que saiam às ruas para defender o governador Pedro Pedrossian, que a UDN, golpista por excelência, queria cassar a todo custo. De lá para cá, o deputado tem mantido a coerência e junto com o PMDB esteve à frente de todos os movimentos cívicos do Brasil, na luta contra a ditadura, pelas diretas já e na constituinte de 1988.

O candidato da oposição, ao criticar o deputado Bezerra, despreza a história do PMDB e atinge a alma do governo. Ao dizer que não quer ter o know how de Carlos Bezerra deveria de imediato expor para os eleitores em quais movimentos ele militou e nesses quatro anos de senado o que fez por Mato Grosso.

Neste caso, o silêncio do governador Silval é comprometedor ou, no mínimo, ingratidão, pois sem a força de Carlos Bezerra junto ao PMDB nacional, Silval Barbosa não teria conseguido nem 20% dos recursos que conseguiu.

Não vejo também o menor interesse de Blairo em fortalecer a base, pelo contrário, deixa seu partido livre para compor com o candidato da oposição. Pode ser porque ele será candidato, como sempre afirmei em meus artigos, mas se não for, é batom na cueca!

Com o devido respeito que tenho ao governador Silval Barbosa e ao senador Blairo Maggi, mediante o comportamento dos dois neste episodio do PR, só posso crer que eles aderiram ao “novíssimo” programa de proteção governamental.

Eles podem ter bons motivos para cruzarem os braços, mas e você, cidadão de bem, vai deixar esse monstro se criar?



Autor

Rodrigo Rodrigues

RODRIGO RODRIGUES é jornalista e ex-dirigente do PDT

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