Que campanha feia! Como disse Shakspeare, a maldade que os homens são capazes de fazer sobrevive a eles
A campanha eleitoral do primeiro turno chega ao fim deixando a sensação de que a máxima de Shakespeare fustigará por bom tempo a consciência dos nossos atores políticos: “A maldade que os homens são capazes de fazer sobrevivem a eles, e as coisas boas são muitas vezes enterradas com seus ossos”.
Não se pode dizer que a campanha se dedicou exclusivamente ao exercício de tiro ao alvo. Não.
Viram-se ideias, programas, propostas e feitos de candidatos, tanto na esfera federal quanto no âmbito dos Estados. E, também, perorações genéricas, cheias de boa intenção.
Mas pouco ficou da substância dos programas eleitorais.
O que teria sobrado, então, da verborragia eleitoreira? Infelizmente, os aspectos negativos prevaleceram sobre os pontos positivos. "Hoje, os torpedos são disparados por uns contra outros. A vergonha parece ter desaparecido nas sombras da competitividade política. Por quê? Porque a política virou um bom negócio, sendo, até, mais engraçado que o circo. "
Vejamos o que restou. De Marina, o perfil mais singelo e puro quando adentrou palanque como candidata, resta uma moldura pendendo da parede, de vidros quebrados, precisando de urgente conserto.
O manto da pureza que cobria a imagem foi puxado pelas mãos de uma campanha negativa.
Nesse caso, tanto Dilma (que usou o voto de Marina contra a CPMF e suas posições sobre homofobia, flexibilização da legislação trabalhista/perda para trabalhadores, entre outros) quanto Aécio (que lembrava sua vestimenta petista) arriscaram usar a tática da abelha, da fábula de Esopo: a vespa pousou sobre a cabeça da serpente, pondo-se a atormentá-la com seu ferrão.
Furiosa, atormentada por picadas, não podendo defender-se com seu veneno, a cobra meteu a cabeça debaixo da roda de um carro, morrendo junto com a vespa.
Pois é, as duas vespas fizeram os cálculos e concluíram que poderiam arrastar a adversária ao túmulo, mesmo sob o risco de irem juntos.
Não apenas sobreviveram como Dilma esticou seu patamar nas pesquisas e Aécio subiu alguns degraus.
Sobre a imagem de Aécio, jogou-se a sombra do governo FHC, em que transitam vultos envolvidos nas capas da privatização, com denúncias do petismo sobre venda de empresas na “bacia das almas” e, ainda, de ser ele contrário ao programa Mais Médicos e outras ações sociais.
Só recentemente, o tucano passou a ser mais contundente, depois de bom tempo sem fixar imagem de oposicionista.
Ademais, a maneira de articular a expressão oral gera ruído para a compreensão da mensagem.
Seu repertório não consegue entrar com facilidade na cachola dos fundões. Já o tiroteio sobre Dilma contou com forte ajuda de livres atiradores, bem posicionados na retaguarda das redes sociais.
Outrora, a “desconstrução” de imagens era uma encomenda feita a terceiros. Havia certo pejo em atacar diretamente adversários.
Hoje, os torpedos são disparados por uns contra outros. A vergonha parece ter desaparecido nas sombras da competitividade política. Por quê? Porque a política virou um bom negócio, sendo, até, mais engraçado que o circo.
O palhaço Tiririca que o diga: “Eu votei. De novo, eu vou votar”, cantarola ele. Sob o arremate de baixo nível: “Tá de saco cheio da política? Vote Tiririca”.
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