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Opinião
Quarta - 22 de Outubro de 2014 às 17:48
Por: Eduardo Póvoas

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"Dedico esta série àqueles que pouco ou nada sabe da história e desejam o fim da Secretaria de Cultura do Estado" Dedico esta série àqueles que pouco ou nada sabe da história e desejam o fim da Secretaria de Cultura do Estado.

Encontro no baú do meu pai coisas que me emocionam e que me faz cada vez mais a admirar a saga do cuiabano, nosso irmão.

Em uma folha de papel manuscrita, começa o velho professor: “Transcorriam as primeiras décadas do século.

A cidade de Cuiabá ligada a capital do país por uma navegação fluvial cujos barcos a frequentavam quatro vezes por mês, e por uma incipiente linha aérea comercial de pequenos hidro aviões que a serviam duas vezes por semana, vivia a quietude dos centros urbanos isolados e aconchegantes, onde a população que se conhecia quase toda, era hospitaleira e solidária.

Poucas eram as diversões. Um cinema instalado num quase galpão, exibindo filmes projetados em partes.

Uma vez por ano, senão de dois em dois anos, um circo de cavalinhos.

A maior novidade eram os rádios receptores que começavam a aparecer e que as famílias mais abonadas adquiriam para suas residências instalados com suas antenas de taquaras amarelas nos quintais e que sintonizavam com muito mais facilidade as estações de Buenos Aires do que as do Rio e São Paulo mais fracas”.

Continua sua narrativa.

“Em um núcleo populacional com estas características a cerca de 2000 quilômetros da metrópole cultural do país, o Rio de Janeiro, seria difícil, senão impossível, falar-se em cultura. Só por um milagre!

E o milagre aconteceu.

Na tranquilidade daquela vida provinciana, encontravam todos o tempo necessário para estudar. A leitura era a distração preferida das classes mais alta da população.

Por incrível que possa parecer, obras de Garret, de Camilo Castelo Branco, de Balzac, de Zola, de Vitor Hugo andavam de mão em mão, tanto quanto as de Jose de Alencar, Taunay e Machado de Assis.

Nas bibliotecas livros de francês e inglês eram consultados pelos que estudavam essas línguas com os conterrâneos que frequentaram cursos ou estagiaram na Europa.

Creia, o Teatro continuava a ser, como o fora no século dezoito, uma das maiores predileções do cuiabano.

Os saraus lítero-musicais eram diversão que muito agradavam o cuiabano. Nos clubes e na Academia, onde eram declamados versos dos mais festejados poetas nacionais.

Ao piano exímios artistas executavam Schubert, Beethoven e Wagner.”

Essa era a cidade de 25 mil habitantes onde meu pai passou sua infância e juventude.

Vou continuar contando a vocês um pouco mais da terra que foi, é e será sempre minha paixão.

Os meninos de hoje precisam saber disso.

Caso contrário, pensarão que nossos ancestrais viviam nesta floresta matando onças, cobras e jacaré, e depois poderão pedir a extinção da Secretaria de Cultura.



Autor

Eduardo Póvoas

EDUARDO PÓVOAS é dentista em Cuiabá

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