A união nacional O Brasil que foi às urnas, após assistir à mais virulenta campanha desde os idos de 1989, está rachado ao meio
O Brasil que foi às urnas, após assistir à mais virulenta campanha desde os idos de 1989, está rachado ao meio.
A profunda divisão que se formou no seio de grupos, setores e regiões poderia, até, ser considerada sinal de avanço político, pelo entendimento de que o escopo democrático se inspira na disputa entre contrários, se chegássemos ao final do pleito com o peito estufado de animação cívica, e não com arsenais cheios de ódio e desejo de vingança.
O mandatário vitorioso terá de comandar um país conflagrado, fracionado em duas grandes bandas, separado por gigantesco apartheid, que lhe vai exigir extraordinário esforço para recompor a união da comunidade política, destemperada ao correr da campanha eleitoral pelo molho da discórdia.
A agressividade da linguagem usada pelos candidatos deixará feridas abertas por um bom tempo, eis que os eixos centrais da política foram entortados: adversários passaram a ser inimigos; o combate às ideias cedeu lugar ao embate pessoal; a carga expressiva da competição eleitoral saiu da régua do respeito para descambar no tiroteio chulo.
Não será fácil reconstruir a mesa da comunhão nacional, unir os sonhos da coletividade. "O mandatário vitorioso terá de comandar um país conflagrado, fracionado em duas grandes bandas, separado por gigantesco apartheid, que lhe vai exigir extraordinário esforço para recompor a união da comunidade política"
Na verdade, a cisão social vem sendo, há tempos, alimentada por recorrente discurso com foco na luta de classes, fenômeno que abandonou as ruas e foi apagado do discurso político desde a queda do Muro de Berlim.
Por essas bandas, no entanto, a insistência de um partido e suas principais lideranças em manter vivo o alfabeto da separação “nós e eles”, “elite branca contra os miseráveis”, “ricos e pobres”, “Nordeste contra Sudeste” contribuiu sobremaneira para expandir os atritos na esfera social, formando bolsões de animosidade entre grupos partidários, exércitos militantes e entidades com feição política, como centrais sindicais.
O abecedário separatista não vingou por algumas razões, entre as quais pelo fato de estar defasado no tempo e no espaço principalmente neste nosso espaço habitado por forte classe média e ainda porque as fontes primárias da pregação foram envolvidas, de forma direta ou indireta, pela intensa fumaça de escândalos, desde os antigos, como o mensalão, aos mais recentes, como o affaire da Petrobras.
O discurso acabou perdendo credibilidade ao bater em ouvidos descrentes, fazendo eco apenas em grupos limitados.
Ante esse quadro, emerge uma tarefa monumental a ser desempenhada pelo governante do próximo quadriênio, a presidente Dilma: apaziguar a nação repartida em raiva e mágoa.
O caminho a seguir é longo, exigindo complexa engenharia na construção de pontes perfis respeitados, críveis, sérios, preparados.
Sua missão: aplainar o terreno esburacado e abrir canais de acesso nas áreas política, social e institucional.
Urge levantar o pressuposto de que os programas de governo em qualquer esfera temática, para ser bem recebidos pela sociedade, hão de exigir uma comunidade pacificada, harmônica, identificada com grandes causas.
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