O apagão no país O pior é perceber que o grosso da fatura fica para quem está longe das tetas do Estado
A situação do país e dos brasileiros já foi boa - graças ao plano real. Hoje, ela é, no mínimo, complicada. Resultado da crise, não enfrentada da forma como deveria ser, e da inflação descontrolada.
Incompetente, o governo optou por paliativos: aumentos dos juros, de contribuições e de impostos, além de acréscimos nos preços da energia e de combustíveis.
O que eleva o valor dos produtos de primeira necessidade, agravando a condição cotidiana de famílias, com endividamento e agora comprometida com o apagão, que estragou alimentos guardados nas geladeiras.
Quadro altamente comprometedor. E tende a ficar pior. Pois inexistem quaisquer iniciativas com os propósitos de frear a inflação e barrar a crise econômico-financeira. E isto obriga prefeitos, governadores e a presidenta a cortar gastos e a diminuir o custo das máquinas.
Vive-se, portanto, em tempos de ‘vacas magras’. E, talvez, por conta disso, o salário mínimo ficou apenas em R$ 788,00. "O pior de tudo, vale dizer, é perceber que o grosso da fatura fica sempre a cargo de quem se encontra muitíssimo longe das tetas do Estado."
Mas, estranhamente, os membros do Judiciário, os parlamentares, os governantes e seus auxiliares diretos tiveram seus pagamentos majorados, cujos índices foram bem maiores que a inflação.
Tem-se, então, uma demonstração clara de que os cortes alcançam apenas outras esferas, nunca às dos reis e a de seus amigos.
Em meio a este cenário dividido entre os privilegiados e os que não têm regalia alguma, vários segmentos da sociedade civil do Rio Grande do Sul elevaram o tom contra o governador José Ivo Sartori (PMDB), sob o seguinte argumento: o reajuste de seu salário é uma contradição diante da crise nas finanças do Estado e da política de corte nos gastos do governo.
Encurralado, o governador abriu mão do aumento de seu próprio vencimento. Atitude que, aliás, deveria ser seguida por todos os chefes do Executivo, bem como os parlamentares e os membros do Judiciário.
Vem, aqui, logo à lembrança do chamado ‘amor cívico’. Tão propalado por Montesquieu, no seu livro ‘Do espírito das leis’. Este pensador dizia: quanto menos se podem satisfazer as paixões particulares, tanto mais se ama a pátria, o Estado e a democracia.
Daí a igualdade. Esta, que é originária daquele amor, é, no igual instante, alimentadora do mesmo, que também se estende a própria ‘igualdade e a frugalidade’, ‘quando se vive em uma sociedade em que as leis estabeleceram uma e outra’.
Ainda que nem todos os cidadãos possam ‘prestar à pátria serviços iguais’, ‘porém todos eles deverão prestar-lhe algum serviço’.
Afinal, desde o nascimento, ‘todos contraem para com a pátria uma dívida imensa’, da qual nenhum deles pode ser desobrigado.
‘Amor cívico’, contudo, bastante difícil de ser encontrado entre os brasileiros encastelados nos altos cargos do Judiciário, Legislativo e do Executivo.
O pior de tudo, vale dizer, é perceber que o grosso da fatura fica sempre a cargo de quem se encontra muitíssimo longe das tetas do Estado.
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