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Opinião
Sábado - 07 de Fevereiro de 2015 às 08:28
Por: Sebastião Carlos Gomes de Carvalho

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A cada troca de governo, um dos assuntos mais recorrentes é o que diz que o futuro governador convocará “uma equipe técnica” para auxiliá-lo. Isto se repete há anos, não importa qual seja o eleito.

Desta vez, diferente não foi. E a imprensa, sem maior crítica sobre o que vem a ser essa “uma equipe técnica”, repete o tema à exaustão.

Não irei tratar do que diz respeito à qualidade profissional do eventual escolhido, mas pretendo abordar o que exatamente significa o critério denominado de “técnico” e o que ele representa no campo da vida política.

Para início, quero dizer que dificilmente esse proclamado critério de escolha se sustenta ante uma análise substantiva.

Entendo ser imprescindível levantar tal questão, entre outras assemelhadas, porque, cada vez mais, se observa que algumas terminologias, portando distorções teóricas, foram gradualmente sendo incorporadas à pratica da atividade política e à administração governamental, de tal modo que passaram a ser tida como elemento natural.

Um desses termos, por exemplo, é o conceito de “governabilidade”, cada vez mais distorcido. Mas deixemos isso para um outro momento, já que importa agora tratar desse tema da formação de uma “equipe técnica” de governo.

E, vamos ao princípio, para exatamente indagar o que vem a “ser técnico”, no sentido que pretende aqui ser tratado. "A Política, na definição clássica aristotélica, é a ciência que tem por objeto a felicidade humana. Aristóteles a dividia em “ética” (a felicidade individual) e em “política”, propriamente dita, (a felicidade coletiva). "

Neste contexto, “ser técnico” representa uma contrafação ao “ser político”.

Se o governador, qualquer deles, por definição um homem político, exercendo um cargo essencialmente político, diz que vai formar uma “equipe de perfil técnico”, ele está fazendo uma clara distinção entre o “ser político” e o “ser técnico”.

Neste sentido, o técnico seria aquele indivíduo detentor de conhecimento especializado, em alguns casos até altamente refinado, sobre determinada área da ciência, enquanto que o “político” seria aquele que não disporia do entendimento sobre as questões “técnicas” que dizem respeito à gestão pública.

Neste caso então estamos sendo implicitamente conduzidos a admitir que o “técnico”, por definição, é superior ao “político”. Em tal contexto, qual seria pois o papel do “político” no governo?

Sem dúvida aqui se põe, por evidencia, uma questão fundamental para o processo institucional, qual seja o do enfraquecimento da figura do político. (Agora sem aspas). E tal se torna estranho por precisamente partir de um setor que deveria, ao contrário, se esforçar para fortalecer e enriquecer a existência institucional do político. Quando um governante diz que a sua equipe será formada por técnicos ele opera exatamente no sentido de descaracterizar o indivíduo político como gestor do Estado.

Na verdade, o que há aqui é uma distorção da compreensão do que vem a ser “político” e do que quer dizer ser “técnico”.

A Política, na definição clássica aristotélica, é a ciência que tem por objeto a felicidade humana. Aristóteles a dividia em “ética” (a felicidade individual) e em “política”, propriamente dita, (a felicidade coletiva).

Assim a Política como ciência visa a investigar formas e instituições de governo que possam assegurar uma vida feliz ao cidadão. Sob este conceito, o político, e para o filosofo grego todo homem é um animal político, é aquele que reúne conhecimento para a ação em favor do bem comum, da felicidade coletiva, do homem vivendo na polis, daí política.

Não parece existir dúvida que este conceito clássico sobre a Política e o político, na prática, ao longo do tempo decaiu extraordinariamente.

Daí este entendimento, partido dos próprios “políticos”, de dividir o homem público entre o “político” e o “técnico”.

Neste caso, na caracterização mais primária, o político seria aquele que disputa mandato, que detém um cargo no executivo ou no legislativo, que milita na “política” partidária, enfim.

Sua capacidade “técnica” estaria limitada a pedir votos, ou a carrear apoio para o “político” chefe, a dar tampinhas nas costas ou a meter a mão no bolso para financiar campanhas eleitorais, etc.

Qualquer participação sua num cargo executivo seria mais em função dessas “qualidades” do que propriamente de algum conhecimento técnico especifico.

Nesse sentido, o “político” serviria para ganhar o poder, mas não para exercê-lo de modo efetivo.

Ainda que possa fazê-lo de modo indireto, ele, conforme esse mesmo entendimento de outros “políticos”, não teria a expertise necessária ao mando da burocracia.

É aí que surge o “técnico”. E o que, exatamente, é ser um “técnico”? 



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