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Opinião
Segunda - 09 de Fevereiro de 2015 às 10:20
Por: Gonçalo Antunes de Barros Neto

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Interessante notar como os textos resumidos nos têm chamado mais atenção que aqueles produzidos com maior racionalidade e profundidade.

A vida corrida que levamos, sem tempo para quase nada, a não ser para a busca de sobrevivência própria e dos familiares, nos relega à inferioridade intelectual.

Com a teoria da relatividade, Einstein recria a dialética e a necessidade da reflexão constante, não só na física, mas igualmente em todos os ramos do conhecimento.

O ’resuminho’ ficou com os dias contados. Tanto isso é verdade, que a sociologia jurídica alemã avançou, ainda antes da segunda grande guerra, no descobrimento da essência do debate político antecedente ao resultado positivado, ou seja, da lei.

Posteriormente, tal relatividade passou a ser inquietação da filosofia do Direito, tendo como expoente o pensador alemão Robert Alexy, com a sua renomada teoria da ponderação.

Hoje, por ironia tecnológica, até pela facilidade da internet, lemos o resumo do resumo e ficamos satisfeitos por estarmos ’bem’ informados. "Como o estado mental das pessoas, projetado atualmente pela busca de facilidades, resumos, manchetes etc, pode ser trabalhado em busca de uma maior dialética política e social? "

O tempo, de aliado, virou vilão num mundo sem peia e freio. O ócio reflexivo não nos é permitido. As manchetes falam pelo conteúdo, apesar de que nem sempre o retratam com fidelidade.

De relatividade, passamos ao absoluto vindicado pelo rolo compressor da informação de massa, deseducadora e mentirosa, serva fiel de quem lhe paga as contas e farras. Inquérito de polícia virou peça acusatória.

Denúncia virou fato subsumido à decisão final da verdade, processual ou não. Do necessário trânsito em julgado, somente remotas lembranças de um sistema de justiça que já teve seu momento e tempo.

Somado a isso, e já tivemos a oportunidade de expor neste espaço, temos a falta de regulamentação das atividades das bibliotecas virtuais, em especial do Google.

O efeito dessa libertinagem é devastador, como, por exemplo, o direito ao esquecimento.

Apesar de ter sido debatido recentemente na comunidade jurídica europeia, com o apoio integral pela sua incidência sob a perspectiva dos direitos humanos, com a ferramenta de consulta universal, esquecer algo sobre alguém, ainda que inocente,virou poeira ou fumaça cibernética.

Como voltar no tempo nessa temática? Como ensinar, apesar dos ’resuminhos’, a relatividade das coisas e a necessária ponderação antes do julgamento da ’mass media’?

Como o estado mental das pessoas, projetado atualmente pela busca de facilidades, resumos, manchetes etc, pode ser trabalhado em busca de uma maior dialética política e social?

Não tenho as respostas; as daremos considerando a relatividade de tudo e o pensamento reflexivo de cada qual.

Aliás, perguntar não ofende - já amou a teu próximo como a si mesmo? Já julgou a teu vizinho com a medida e peso com que julgas seu filho? -.Cuidado, não basta a igreja e a confissão, o buraco da agulha é muito pequeno para a pata do camelo.

É por aí...



Autor

Gonçalo Antunes de Barros Neto

GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO é juiz de Direito em Cuiabá

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