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Opinião
Quinta - 19 de Fevereiro de 2015 às 10:46
Por: Roberto Boaventura

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Reconhecidamente, não sou dos melhores navegantes dos espaços virtuais. Gosto mais do real concreto. Ao Face, prefiro a face to face.

Por isso, não morro no dia que não posso “dar uma olhadinha no meu Face”. Passo mais tempo ainda sem ver os e-mails. Nem internet tenho em meu pré-histórico celular.

Mesmo sendo resistente ao virtual, e não necessariamente à tecnologia, de quando em quando, me permito perder alguns minutos vendo postagens de pessoas próximas. Em geral, é só decepção; é muita tecnologia desperdiçada com infindas tolices.

Pois bem. Dias atrás, perplexo, vi uma resposta que um amigo tão antigo quanto querido estava dando a alguém que lhe convidara “para o Impeachment da Dilma”.

Em sua resposta, deveras grosseira, meu amigo sugeriu à criatura proponente do convite que ela fosse sozinha ao ato e levasse consigo “uma pá para colher toda sorte de dejetos (materiais fecais/merda) lá proferidos”.

A essa deselegância de meu amigo – repito, tão antigo quanto querido – somou-se uma leitura sua do que viria a ser um eventual impeachment de Dilma Rousseff: um “assalto à democracia”; em outras palavras, um golpe. "Se sujarem a pontinha da saia da presidente Dilma, podem borrar a calça inteira do ex-presidente Lula "

Seria mesmo?

Na dúvida, como sugeria uma vinheta de um velho telecurso das séries iniciais do ensino formal, “vamos pensar um pouco?”

Para pensar, nada melhor do que ler outros que já se pronunciaram sobre o tema em pauta. Assim, em meu arquivo de artigos selecionados, encontrei um desses, assinado por Hélio Schwartsman (“Impeachment é golpe?”: Folha de São Paulo; 06/02/2015: A2).

Já em sua introdução, o autor transcreve o seguinte enunciado: “Qualquer deputado pode pedir à Mesa da Câmara a abertura de processo (de impeachment) contra o presidente da República. Dizer que isso é golpe é falta de assunto”.

Imediatamente, Shwartsman informa que o enunciado acima “não é de um tucano em busca do 3º turno, mas de um petista insuspeito.

Ele foi articulado por José Dirceu (aquele que cumpre pena por conta do Mensalão e já foi citado no Petrolão) em 1999, quando o PT liderava um movimento para afastar o então recém-eleito FHC, que, como Dilma, perpetrara um estelionato eleitoral ao manipular o câmbio em favor de sua candidatura”.

Como consequência do estelionato eleitoral de Dilma Rousseff, o articulista Valdo Cruz (In: Folha de São Paulo; 02/02/2015: A2) registra que já estamos experimentando um “Tarifaço, inflação em alta, contas públicas no vermelho, juros subindo, desemprego aumentando, crises hídrica e elétrica e um cheiro danada de recessão no ar”. Isso tudo em pouco mais de um mês do segundo mandato de Dilma.

Mas voltando ao artigo de Schawrstman, ali é dito que “Se deixarmos de lado a paixão política para tentar pensar os conceitos com rigor, teremos de concordar com Dirceu. O impeachment é o contrário de um golpe. Trata-se de um mecanismo constitucionalmente previsto que pode ser utilizado para sair de certas crises. Embora seja um processo traumático, é certamente preferível a tanques nas ruas”.

Tanques nas ruas, sim, é golpe. O resto não; nem mesmo um impeachment, caso ele seja necessário, como já o foi num passado com Collor, que hoje é um aliado do PT.

Por ora, não vislumbro um impeachment. Todavia, ele será necessário se, além de tudo que pontua Valdo Cruz (rever acima), os infindáveis e escabrosos escândalos de corrupção sujarem a ponta da saia da presidente.

Se sujarem a pontinha da saia da presidente, podem borrar a calça inteira do ex...

Aí ninguém segura mais. Será dejeto por todos os lados. E o odor já não é bom.



Autor

Roberto Boaventura

ROBERTO BOAVENTURA  é doutor em jornalismo e professor de Literatura da  UFMT

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