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Opinião
Sexta - 06 de Março de 2015 às 11:53
Por: Benedito Pedro Dorilêo

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A hora do recreio escolar foi para todos nós momento de descontração, da merenda e de soltar os pulmões.

As alacridades infantil ou juvenil transmitem alegria, celebração repetida do dom da vida: gritos, cantos constroem um mundo lúdico e de confiança, desanuviam o espírito, mas cedem logo ao domínio do silêncio.

Do outro lado, a estridência instalou sua supremacia; adultos livremente usam os altos decibéis da voz para garantir audiência e espaço, por vezes deselegantemente como a madame que desanda o vozeirão e gargalhada em salão seleto.

Certo é que elevar o tom da voz passou a ser questão de sobrevivência social. Quanta estupidez do nosso tempo. A ditadura do barulho ocupou todos os espaços físicos, abertos ou fechados, como salas de trabalho desprovidas de paredes e equipadas com som ambiente.

Em casa, a agressão vem da rua, através dos mais variados ruídos: a grossura do motociclista da máquina gigante, qual usina de estrondos, que sacode o peito e balança as cordas do coração, o motorista da buzinada, da abusada sirene; ou os festeiros dos sons musicais nos veículos. "Grave é a vida em sociedade com o volume disparado em comunidades barulhentas a prejudicar a convivência em grupo. Imaginar que cada indivíduo possa fazer o que quiser, no lugar e hora que eleger, sem freio ou controle, chega-se ao porto da desordem social"

Há um exército de produtores do barulho na cidade retraída sem defesa.

Acrescente-se a ausência do controle das aeronaves, que encurtam o caminho, sobrevoando em voo rasante. A civilização hodierna está com os ouvidos embrutecidos em sua maioria, com histórico advindo do século XVIII, com início da revolução industrial, quando metais atritavam-se, para chegar aos dias atuais com impiedosa poluição sonora.

É raro o sussurro, a audiência de música vai-se tornando impossível. Buscando exemplo, os japoneses amam e respeitam o silêncio, protegendo a saúde; os latinos extravagantes soltam a voz sem o menor comedimento.

Informa a Universidade de Cleveland dos Estados Unidos que fatores biológicos, de personalidade e culturais influenciam no volume de como o corpo se estrutura, ou seja, o volume da voz depende da potência dos órgãos da fala e sujeitos a processos patológicos; e ainda a conduta do indivíduo.

Grave é a vida em sociedade com o volume disparado em comunidades barulhentas a prejudicar a convivência em grupo. Imaginar que cada indivíduo possa fazer o que quiser, no lugar e hora que eleger, sem freio ou controle, chega-se ao porto da desordem social.

O ato público prepondera e torna passivo ou quase nulo o culto da intimidade, em uma sociedade de espetáculos.

Esta reflexão é robustecida pela massificação da telefonia celular aliada à internet – constitue o espanto deste século XXI. Mostram as estatísticas que, em 2013, o Brasil atingiu a marca de 270 milhões de linhas móveis.

Alastra-se o surto da conveniência pessoal, do individualismo, pela facilidade da conquista do poder de comunicação. Sucedem-se um ou outro seminário, iniciam-se investigações em busca de dados em áreas diversificadas do conhecimento, a começar pela psicologia.

Somente a revolução das ciências do comportamento humano pode apontar solução para a doença social em estado crítico. Pregam-se aos ventos regras de comportamento e de etiqueta, pois, em qualquer ambiente aberto ou fechado, o telefone móvel vibra e os gritos acontecem – o “modus vivendi” está inteiramente incivilizado.

Pensar que na antiguidade os gregos expulsavam os ferreiros para lugar distante da urbe, ou a Suíça que regulamenta horário até do serviço de podar grama. Nas ruas do nosso país, sucedendo o alarde da Copa, assumem os pregoeiros da campanha eleitoral, com fortalezas sonoras rebentando os tímpanos.

O cidadão paga impostos e não recebe o retorno da proteção para viver em paz, diante da incúria das autoridades responsáveis, que pouco cumprem a legislação. Pobre estágio da nossa cultura.

Calendários anuais generosos, temos também o Dia da Voz. Da diligente Sociedade Brasileira da Voz, aguarda-se a conscientização da importância da voz humana.

Que outras instâncias da saúde, setores de pesquisas universitárias alertem para doenças surgidas com o ribombar constante da poluição.

Se a mídia denuncia, governos obrigam-se a cobrar, dos seus empregados dirigentes, ações fiscalizadora e corretiva.



Autor

Benedito Pedro Dorilêo

BENEDITO PEDRO DORILEO é advogado e foi reitor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

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