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Opinião
Quinta - 12 de Março de 2015 às 07:54
Por: Rodrigo Vargas

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Já escrevi várias vezes sobre as artimanhas retóricas que marcaram a adoção do VLT como o modal de transportes para a Copa do Mundo em Cuiabá. Muitas prevalecem até hoje, empobrecendo o debate. Então, retomo a conversa com meus raros leitores.

BRT é melhor do que VLT? Já andei nos dois e posso afirmar, com toda a certeza, que a viagem no trenzinho é muito mais suave e confortável. Asfalto algum, por melhor que seja, supera a uniformidade milimétrica dos trilhos. Ponto.

Isso significa que o VLT é melhor que o BRT, certo? Não necessariamente. Quando compramos um carro, devemos sim levar em conta características como ergonomia ou nível de ruído. Mas é claro que fatores como o valor do seguro, do IPVA e o custo médio de manutenção precisam entrar nesta conta.

Isso significa então que o BRT é melhor que o VLT? Dependendo do contexto, sim. No mundo todo, os dois modais são utilizados em sistemas modernos de transporte coletivo, com resultados mais ou menos positivos. "Em relação especificamente ao modal cuiabano, é inútil discutir se é melhor o VLT ou o BRT. E não poderia ser diferente. Até hoje, ninguém teve acesso a um estudo digno desse nome. "

Há considerável literatura técnica a respeito das vantagens e limitações de cada sistema e nenhum profissional sério é capaz de condenar, de antemão, qualquer um deles.

Ah, mas o VLT vai livrar-nos das máfias dos ônibus e dos combustíveis! Livrar-nos como, cara pálida? Todos sabem que as máfias surgem e se fortalecem em um contexto de corrupção e impunidade.

Ocupam espaços abertos pela omissão do Poder Público e o silêncio da sociedade.

Se não mudarmos esse estado de coisas, quem garante que não haverá também a máfia do VLT?

Espantava-me ver autoridades graúdas atribuindo qualquer crítica a um movimento orquestrado pelas tais máfias. Eu pensava comigo: os caras são do governo, chefiam as polícias Civil e Militar, sabem que existem máfias e, em vez de fazer algo para enfrentar diretamente a situação, resolvem construir um trem?

Em relação especificamente ao modal cuiabano, é inútil discutir se é melhor o VLT ou o BRT. E não poderia ser diferente. Até hoje, ninguém teve acesso a um estudo digno desse nome.

Ninguém sabe quanto seria a tarifa nos dois sistemas. Ninguém sabe como a integração seria feita. Ninguém tem condições de afirmar absolutamente nada que não seja um chute mais ou menos rebuscado.

E esse é o ponto. Não se trata de ser contra o VLT, mas de se opor a qualquer obra feita às pressas e sem projeto. Tivesse sido tocado dessa forma, o BRT estaria certamente empacado também. Ou alguém por aí imagina que seria diferente?

Será preciso tirar do caixa estadual mais R$ 800 milhões para terminar a obra, diz o governo. Vamos supor que a estimativa esteja correta.

É um valor equivalente ao de 17 trincheiras como a da Jurumirim. Dinheiro suficiente para construir 36 viadutos como o da UFMT.

Diante de cifras desta magnitude, é mais do que justo discutir, sim, se vale a pena bancar até o fim o conto de fadas apresentado durante os últimos anos à população.

Seguir em frente, mas na direção errada, pode ser uma porção de coisas.

Progresso nunca foi.



Autor

Rodrigo Vargas
rodrigovargas.cba@gmail.com

RODRIGO VARGAS é jornalista em Cuiabá.

rodrigovargas.cba@gmail.com

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