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Opinião
Quinta - 08 de Setembro de 2016 às 11:59
Por: Maurício Antônio Lopes

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Os líderes das maiores economias avançadas e emergentes do mundo se reuniram na bela cidade de Hangzhou, na China, em 4 e 5 de setembro, para a reunião do G20, que este ano priorizou o tema "para uma economia mundial inovadora, dinamizada, interligada e inclusiva". Este conjunto de países, que reúne África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, República da Coreia, Rússia, Turquia e União Europeia, representa cerca de 90% do PIB e 80% do comércio mundiais, além de dois terços da população do globo.

Com a economia mundial em ritmo lento, crescimento inovador foi priorizado na agenda como forma de colocar no radar dos líderes e tomadores de decisão a inovação e o empreendedorismo como caminhos para injetar vitalidade no processo de desenvolvimento global. E, de fato, inovação foi palavra comum no comunicado final do evento, que concluiu que o crescimento no futuro, para ser dinâmico, inclusivo e gerador de mais postos de trabalho, precisará ser alimentado por novas forças motrizes. A velha forma de estimular o crescimento por meio de alquimias fiscais e monetárias já não é efetiva para injetar ânimo nos mercados e na economia. O dinamismo e a criatividade liberados por reformas institucionais, modernas indústrias, processos e produtos viabilizados por avanços científicos e tecnológicos se tornaram as novas fontes de progresso e crescimento.

o crescimento no futuro, para ser dinâmico, inclusivo e gerador de mais postos de trabalho, precisará ser alimentado por novas forças motrizes

Um sentimento comum é que as forças geradas pelo desenvolvimento tecnológico e industrial das últimas décadas estão arrefecendo, o que faz com que o crescimento global fique muito aquém do desejável. Sinais abundantes dessa realidade estão na volatilidade nos mercados financeiros, nas flutuações de preços de commodities, no ritmo lento do comércio e dos investimentos, além da estagnação da produtividade e da oferta de empregos, especialmente nos países em desenvolvimento.

Acrescente-se a isso os desafios de natureza geopolítica, o aumento dos fluxos de refugiados, o terrorismo e os conflitos que complicam o panorama econômico global. Para contrapor este quadro há consenso em torno da necessidade de construção de uma economia mundial inovadora, revigorada, interconectada e inclusiva, que inaugure uma nova era de crescimento global e de desenvolvimento sustentável. Um desafio enorme para o qual a China acredita ter soluções.

O presidente chinês Xi Jinping, ao abrir o evento de empresários denominado Business 20 (B20), que antecede a cúpula do G20, enfatizou que a cura para muitos dos males e perplexidades do presente passa pela construção de ecossistemas de inovação dinâmicos, cooperativos e inclusivos. A experiência chinesa mostra que, quanto mais negócios inovadores são criados, mais eles se espalham das regiões mais desenvolvidas para as menos desenvolvidas. Nesse processo, indústrias obsoletas são descontinuadas e novas indústrias emergem, com criação de empregos, novos complexos industriais e cidades. A própria cidade sede do G20, Hangzhou, é exemplo de como a China se tornou líder em desenvolvimento e crescimento econômico sustentado em inovação. Ali floresce uma constelação de empresas intensivas em conhecimento, experimentando novas estratégias de gestão e negócios que impactam muitas das regiões menos desenvolvidas do país.

No rastro da estratégia chinesa de desenvolvimento movido à inovação, U$220 bilhões foram investidos em P&D em 2015, 9,2% a mais que em 2014. Não é à toa que a China é a segunda maior destinação de capital de risco, depois dos Estados Unidos. Estimulados por procedimentos desburocratizados, uma média de 14.000 novos negócios são registrados diariamente no país. Ao investir em pesquisa e inovação, o país catalisa novos motores de crescimento e abre novos horizontes para o seu desenvolvimento, como comprovado pelo crescimento de 6,7% no PIB no primeiro semestre de 2016, o que mantém a China na liderança do crescimento econômico global, mesmo em tempos difíceis como o que vivemos.

Infelizmente as recomendações do G20 se deparam com a preocupante e recorrente dificuldade de se garantir mais constância no apoio à pesquisa científica e tecnológica na maioria dos países em desenvolvimento, e mesmo em muitos países desenvolvidos. Em tempos de crise, quando recursos são mais escassos, acirra-se a competição, quase sempre com perda de investimentos públicos em pesquisa e inovação. Mesmo com numerosas evidências de que o investimento público, realizado de forma persistente, é pré-requisito fundamental para a inovação e o progresso da sociedade.

O estudioso da gestão empresarial Peter Drucker disse certa vez que o planejamento de longo prazo não trata de decisões futuras, mas do futuro das decisões do presente. Os líderes que estiveram no G20 certamente deixaram a China com a certeza de que a inovação e o empreendedorismo estimulados e cultivados no presente serão ingredientes críticos para a construção da vitalidade econômica global que todos almejam para o futuro.

Maurício Antônio Lopes é presidente da Embrapa.



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