O Político e o Espinheiro
“...Ufa! Acabou, já não aguentava mais, na verdade me dava nojo ao assistir aquelas baboseiras. ”
Essa era a voz corrente ontem na feira do Porto, sentimento de indignação, de revolta, de impotência, de indiferença, estava estampado no rosto das pessoas e eram verbalizados ali naquele local público por todos, das mais diversas camadas da sociedade sobre a campanha política.
Alguns diziam que votariam nulo, outros retrucavam e falavam, “... se votar nulo não terá para quem reclamar ...” a resposta já estava na ponta da língua, “... nesse país adianta reclamar alguma coisa ...? ”.
Toda a campanha política pelo país a fora foi pautada por acusações mútuas, denúncias, mentiras, traições, sabotagens, trapaças e busca por vantagens pessoais e outros atos e fatos, na busca pelo PODER, seja para garantir o voto persuadindo o incauto, ou preparando para ganhar no Tapetão. O fato é que querem ganhar a qualquer custo, simples assim, nada mais importa.
Nesse momento histórico onde se diz que apesar de tudo o povo tem liberdade de se expressar, que vivemos em uma nação democrática, mas que o voto é obrigatório e são os partidos políticos que selecionam os candidatos, o povo apenas escolhe o que acha menos pior, é preciso refletir sobre o futuro para as próximas gerações.
Lendo o Livro sagrado, a BÍBLIA, no livro de Juízes, capítulo 9, encontrei lá a história das árvores que estavam a escolher um rei para a floresta.
O texto narra a história de Abimeleque, e Jotão ambos filhos de Gideão, que não aceitou o convite para ser rei de Israel pelo fato de já exercer a função de juiz, pelo que o seu filho Abimeleque para assumir o Reinado mandou matar seus irmãos.
Jotão, um de seus irmãos, único sobrevivente do massacre de seus 70 irmãos, o mais novo, conseguiu escapar da matança subindo ao monte Gerizim, de lá proferiu a parábola ao rei e ao povo, advertindo-o contra o reinado de seu cruel irmão Abimeleque, fugindo em seguida.
Jotão gritou tão alto que todos pararam para ouvi-lo...
_ quero lhes contar uma história... era uma vez, umas árvores resolveram procurar um rei para elas. então disseram à oliveira: "seja o nosso rei."
_ e a oliveira respondeu: "para governar vocês, eu teria de parar de dar o meu azeite, ... "
_ então as árvores foram pedir desta vez à figueira: "venha ser o nosso rei."
_ mas a figueira respondeu: "para governar vocês, eu teria de parar de dar os meus figos tão doces."
_ então as árvores foram pedir à parreira de uvas: "venha ser o nosso rei."
_ mas a parreira respondeu: "para governar vocês, eu teria de parar de dar o meu vinho... "
_ aí todas as árvores foram pedir ao espinheiro: "venha ser o nosso rei."
_ e o espinheiro respondeu: "hum... está bem! Se vocês querem mesmo me fazer o seu rei, venham e fiquem debaixo da minha sombra".
O espinheiro, a mais insignificante das árvores, só serve para ser queimada. O espinheiro estava disposto a reinar sobre as árvores. E todas elas estavam dispostas a lhe prestar submissão. Ela representava a antítese de árvores valiosas que haviam rejeitado a oferta para ser rei.
Seus galhos não podem oferecer sombra, pois estão cheios de espinhos que machucam, ferem tudo e todos, indistintamente, mas é a que se prontificou a comandar.
Diante da parábola, poder-se-ia dizer que o PODER só interessa aos inúteis e desocupados, que nada ou muito pouco tem para oferecer, pois, quanto aos que são úteis à sociedade, esses estão focados em continuar a produzir.
A preocupação é que pelo que se ouve, principalmente dos jovens é que querem distância da política, salvo algumas poucas exceções, ao que parece, cada dia que passa, mais apática e indiferente fica o povo, permitindo que os espinheiros os governe.
Vejam que Abimeleque para ser rei mandou matar setenta irmãos, hoje, morrem centenas, nos hospitais, vítimas de violência, e outros males, mas quem se importa, pois, para os espinheiros de plantão é preciso ficar pior a cada dia, para que tenham o que prometer e ou falar do que o antecedeu.
Então pergunto: Até quando nós permitiremos que espinheiros inúteis governem.
Naime Márcio Martins Moraes é advogado e professor universitário – advnaimemmm@terra.com.br
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