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Opinião
Domingo - 13 de Maio de 2012 às 20:51
Por: Bruno Peron

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Em 1990, um grupo de economistas asiáticos arquitetou o conceito de "desenvolvimento humano" e formulou a primeira edição de seu Relatório no âmbito do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), um órgão da Organização das Nações Unidas (ONU). A frase que ensejou a fundação deste novo conceito é: "As pessoas são a riqueza real de uma nação".

O desenvolvimento deveria enfatizar, assim, as pessoas e trazê-las ao centro do processo de transformação da sociedade nos debates e nas políticas econômicas. Na visão do paquistanês Mahbub ul Haq, fundador do Relatório, o objetivo básico deste empreendimento é ampliar as escolhas das pessoas.

O economista indiano Amartya Sen, em seu turno, declarou que "desenvolvimento humano" é "avançar a riqueza da vida humana, em vez da riqueza da economia na que seres humanos vivem". A partir de então, o conceito de "desenvolvimento humano" não se aplica somente desde as pesquisas anuais do PNUD, mas também em vários contextos nacionais ao redor do mundo, isto é, inspira governos em várias esferas.

Estas ideias serviram de ponto de partida para uma reflexão mais ampla e inclusiva do conceito de desenvolvimento a fim de elucidar maneiras alternativas de transformar os países em função de algo mais que a utilidade materialista das mercadorias. Um dos argumentos favoráveis a esta guinada paradigmática refere-se ao desafio de reduzir as desigualdades nas avaliações anteriores à criação do Relatório.

O que constituiu o paradigma de "desenvolvimento humano" na década de 1990, que foi tomada pela onda de preceitos neoliberais, certamente difere do que significa hoje, uma vez que se trata de um conceito dinâmico, ou seja, que se condiciona na medida da transformação que provoca nas sociedades.

O PNUD declara que, mesmo nos países que enfrentaram condições econômicas adversas, a maioria das pessoas vive com mais saúde, longevidade, educação e acesso a bens e serviços. Comparativamente, o conceito similar de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) classifica os países da Organização das Nações Unidas em função de critérios como expectativa de vida, nível educativo e renda real (não a per capita). Nele, porém, as desigualdades assumem outras proporções.

Em 2010, o Relatório de Desenvolvimento Humano cumpriu seu vigésimo aniversário. No Prefácio da edição deste ano, Helen Clark, diretora do PNUD, declarou que "o desenvolvimento nacional deve ser medido não simplesmente pela renda, como tem sido há muito tempo, mas também pela expectativa de vida e alfabetização".

Inúmeros têm sido os esforços para agregar variáveis ao conceito de "desenvolvimento" de modo a suavizar que ele mesmo, afinal de contas, desigualou tudo o que hoje tenta combater ou reduzir em nome do humanismo.

A gestação do Relatório de Desenvolvimento Humano conformou uma tentativa de "humanizar" a carga economicista do conceito de "desenvolvimento". O risco, no entanto, é de que a economia, que em si encerra também um aspecto de desenvolvimento humano, passe a fagocitar outras esferas humanas dentro de suas diretrizes políticas através de uma fachada legitimadora que encubra a reivindicação de um "desenvolvimento" efetivamente mais humanitário. Noutras palavras, o aspecto "humano" do "desenvolvimento" não se deve transformar noutro elemento mais para avaliação de crescimento, renda, demanda, oferta, oscilação, etc.

O conceito de "desenvolvimento humano" não resolve, ainda, o impasse do humanismo como fim na medida em que aquele redunda no próprio "desenvolvimento" a despeito da boa vontade de seus ideólogos e das políticas que o aplicam.

Será possível olhar com menos desconfiança quando não seja a economia o campo ou a disciplina que nos tente redimir dos pecados do "desenvolvimento".


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