De analfabeto funcional
Por ouvir dizer, é assim que o Nortão se tornou conhecido para muitos em Mato Grosso – acredito que para a grande maioria da população. Região colonizada com a abertura da BR-163 e o reforço migratório de brasileiros em busca do amanhã que não vislumbravam em seus lugares de origem aquela área trocou a condição de vazio demográfico amazônico e ganhou ares californianos, muito embora ainda tenha bolsões de problemas e gargalos criados pela pirraça política. Mesmo sem protagonismo, na modesta condição de mero repórter, acompanho sua evolução. Melhor: aprendi a gostar daquele pedaço de terra e, por isso, tomei a liberdade de escrever sobre ele, sua gente e a rodovia que lhe deu o sopro de vida. Daí nasceu o livro “Nortão BR-163: 46 anos”, que ora chega aos leitores que antecipadamente compraram exemplares.
O livro foi escrito com a limitação do meu texto, mas em compensação é carregado de calor humano. Arrasto a oralidade da história do Nortão para suas páginas. Tomei essa liberdade literária na tentativa de preencher o vazio de informações precisas sobre o quê daquela região. Observo que a obra foi escrita em 60 dias no final de 2016, mas moldada ao longo dos 46 anos de meu convívio com as vilas, cidades e, sobretudo com o povo que ali habita.
Reconheço que fui ousado ao escrever o livro, por não ser a figura melhor preparada para tanto. Porém, diante das múltiplas vertentes de nossa expressiva comunidade de escritores, que sempre nos brinda com obras valiosas e imprescindíveis para o desnudamento de Mato Grosso, o que a impede de voltar seu olhar para o Nortão, decidi botar minhas informações no papel. Porém, humildemente sugiro que tão logo algum escritor lance obra sobre a região, não deixem de ler sua publicação, pois também o farei na certeza que iluminarei meus acanhados conhecimentos sobre a área focalizada.
Não tenho motivos para esconder que a publicação sofreu atraso. Isso, porque não tive recursos para fazer algumas viagens ao Nortão, em dezembro, conforme estava previsto, para que pudesse atualizar fotos e novamente conversar com alguns personagens do livro. Além disso, precisava dividir meu tempo entre o batente de operário das letras na redação do Diário de Cuiabá com o projeto da obra, muito embora não seja escritor. Como se tudo isso ainda não bastasse, não tive apoio das leis de incentivo cultural.
Sou extremamente grato aos leitores que compraram exemplares antecipadamente. Essas vendas foram importantes para o pagamento da editoração, revisão, fotografias e impressão do livro. Também agradeço o colega Édson Xavier, que produziu a capa, diagramou as 246 páginas coloridas dos 42 capítulos e fez os infográficos; e o professor e escritor Marinaldo Custódio, que além de revisar foi autor do prefácio.
Não alimento esperança de sucesso editorial, porque tradicionalmente em Mato Grosso não há volume de venda de livros de autores locais. Tenham certeza que com isenção, precisão e seriedade transportei para as páginas o verdadeiro ontem e o hoje do Nortão e da BR-163.
Gostaria de presentear amigos e conhecidos com exemplares. Peço desculpas se não o faço, mas acredito que não se faz necessário justificar tal decisão.
Com o texto espero transportar o leitor por uma viagem pelo Nortão, por caminhos surpreendentes, tão surpreendentes quanto aquela região que é um dos pilares da política de segurança alimentar mundial. Isso sem aceitar o título de escritor, que é muito nobre para mim, que não passo de analfabeto funcional.
Eduardo Gomes é jornalista
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