Carnaval, corrupção e santa No final das contas, até a Igreja Católica, conhecida pelo conservadorismo, este ano se rendeu ao Carnaval
Desde que o Brasil é Brasil e o Carnaval existe ouvimos prós e contras sobre a grande festa momesca, especialmente por causa dos feriados e da entrega popular aos longos dias de festejos.
Há quem discorde, ou melhor, condene os gastos dos desfiles das escolas de samba de São Paulo e Rio de Janeiro. E, claro, os investimentos públicos feitos Brasil afora na preparação de espaços públicos para receber os foliões.
Outros não entendem porque um país com tantos desempregados, famílias passando fome e sistemas de educação, saúde, segurança... desmantelados celebra uma festa pagã com tampo fervor. Ou, melhor, como a população é capaz de esquecer todas as crises e falcatruas, como as investigadas pela Lava Jato, e mergulhar de cabeça na festa carnavalesca.
Que me desculpem esses conservadores, mas há muito mais coisas, e bem mais graves, para nos deixar perplexas
Pensando bem, o Carnaval pode ser, ou melhor, é um exagero, precisamos reconhecer. Entretanto, o que as pessoas podem fazer, individualmente, para resolver os problemas econômicos e políticos brasileiros?
Ir à guerra, literalmente? Às vezes penso que nosso país não tem mais jeito. Que aqui não há nomes nos quais poderíamos confiar a presidência da República, as cadeiras do Senado e de outros poderes. Sei que esse sentimento não é isolado, que não estou sozinha nesse desalento.
Todavia, porém, com tudo, há um ditado popular que diz: “o que não tem solução, solucionado está”. Nesse caso não significaria esquecer, deixar a corrupção correr à solta, mas dizer que enquanto não conseguimos mudar os rumos seguimos comemorando o Carnaval e tentando aprender escolher aqueles que vão melhor nos representar. Risco de decepção? Hummmm! Sempre haverá.
No final das contas, até a Igreja Católica, conhecida pelo conservadorismo, conservadorismo que rejeita até o uso de anticonceptivos, este ano se rendeu ao Carnaval. A escola de samba paulistana Unidos de Vila Maria está homenageando Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil.
A homenagem teve direito a revisão da letra do samba-enredo. No sambódromo, porta-bandeiras, mestres-sala, baianas e componentes de todas as outras alas vão estampar no corpo a imagem da santa. A empolgação é grande entre os passistas.
A agremiação pretende contar a história dos 300 anos do descobrimento da imagem da santa no Rio Paraíba. E, como era de se esperar, tem devotos perplexos com o que denominaram de “uso de Nossa Senhora no Carnaval”. Que me desculpem esses conservadores, mas há muito mais coisas, e bem mais graves, para nos deixar perplexas.
Alecy Alves é repórter
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