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Opinião
Domingo - 30 de Abril de 2017 às 09:23
Por: Lourembergue Alves

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É revelador o conteúdo das delações dos executivos da Odebrecht. Revelador e provocador, diga-se de passagem, embora se tenha acesso apenas a alguns de seus trechos. Infelizmente, porém, a imensa maioria da população se apega unicamente aos nomes dos integrantes da lista dos delatores (induzida pela mídia que só fala dela). A lista é importante e necessária, mas não é tudo. Nem a Odebrecht é a única empresa a pagar propina, tampouco apenas ela alimenta o caixa 2 das campanhas eleitorais, muito menos tão somente ela se beneficia da proximidade com os poderes. Além disso, a sua ligação com a Petrobrás não se deu agora, quando o PT, PP e o PMDB passaram a controlar Petrobrás.

Esta ligação é antiga, pois vem desde a fundação da Petrobras (1953), cuja presidência se encontrava nas mãos de um militar, Juracy Magalhães. Presidente que mantinha laços de amizade com empresários, conforme alerta uma das páginas da tese de doutoramento do professor Pedro Henrique Campos. Segundo este professor, foi esta relação de amizades que possibilitou o crescimento da Odebrecht no país, a qual deixou de ser assim uma empresa pequena e regionalista, focada no Nordeste e comas obras tocadas pela SUDENE. Aliás, o Prédio-sede da Petrobrás, erguido no Rio de Janeiro, foi à primeira construção da Odebrecht fora das terras nordestinas.

A partir daí, ganhou mais visibilidade, sem se desgrudar da maior companhia pública brasileira, a qual continuava a ter à sua frente um militar. Seu crescimento, porém,ainda era muito acanhado, mesmo com o conjunto de obras viabilizado no governo Juscelino Kubitschek, uma vez que, neste período, as empreiteiras mineiras eram as privilegiadas. O que contribuiu, à época, para aumentar o coro de denúncias de corrupção. Justifica-se, então, a lengalenga, vitoriosa nas urnas, de Jânio Quadros, que com sua vassourinha iria varrer a corrupção do país.

A Odebrecht, por outro lado, foi a empresa que mais cresceu durante o regime burocrático-militar, saindo-se do final da fila das empreiteiras para se encontrar entre as três maiores delas. Tudo em razão, segundo o professor Pedro Henrique, da sua relação direta com os militares, ministros e presidentes de estatais. Relação que lhe permitiu, por exemplo, tocar as obras do Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, e da usina nuclear de Angra dos Reis.

A prática de propina é anterior, mas se consolidou na ditadura (1965-85), e vem em um ritmo crescente no período pós-regime burocrático-militar, a partir de 1985, até hoje, com os grandes empresários relacionando-se também com os integrantes do Legislativo, promovendo a aprovação de leis que os beneficiam.

Isto significa, no entender desta coluna, que o Brasil e os brasileiros têm a oportunidade única de compreender e colocar em pratos limpos a relação existente entre empresários/empresas e o Estado (empresários/empresas e os governos, bem como com os poderes). Relação, muitas vezes, de promiscuidade. Basta que se observem as delações dos executivos da Odebrecht. Falta atenção maior a este tipo de relação, que permeia os ciclos históricos e pauta as políticas públicas no país. É isto.

Lourembergue Alves é professor e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br



Autor

Lourembergue Alves

LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e articulista

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