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Opinião
Segunda - 08 de Maio de 2017 às 15:27
Por: Rosana Leite Antunes de Barros

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Vem sendo veiculada campanha da OAB da Bahia, onde o foco é o respeito às advogadas. A mídia é grande parceira pela igualdade de gênero, e, mais uma vez, falar do desafio de cumprir a atividade, em um universo extremamente masculinizado, é uma enorme batalha.

Lembro de uma cena em Rosário OesteMT, município onde também atuei como defensora pública, anos atrás. Na ocasião, atuávamos: uma juíza, uma defensora pública, e uma promotora de justiça. Certo dia, aconteceria o interrogatório de um réu em ação penal. Quando ele adentrou ao gabinete de audiências e se deparou com três profissionais mulheres, foi enfático: "Três mulheres? Estou enrolado".

Apesar de no universo jurídico as mulheres estarem presentes em larga escala, o machismo é muito visível. O pensar em tribunais, é senso comum imaginar homens engravatados. Também faz parte do imaginário a existência da maioria masculina em ambientes onde o juridiquês é predominante. O comando das instituições e poderes ainda é masculino. E quando uma mulher alça a direção, os questionamentos são imensos quanto à capacidade de comando. As mulheres sempre estiveram sujeitas ao servilismo e dominação. Quando menina, ainda solteira, são praticamente obrigadas a seguir as direções do pai e do irmão. Com as uniões amorosas, passam a ser guiadas pelos companheiros ou maridos. Aquelas que querem seguir o próprio caminho são chamadas de difíceis, ou teimosas em querer se comparar ao homem.

As evoluções sociais aconteceram, e pipocam mulheres com duplas e triplas jornadas, principalmente, na advocacia. Como nos primórdios as carreiras pensantes eram apenas destinadas ao gênero masculino, houve um "entendimento" de que as mulheres são frágeis, subordinadas e incapazes de adentrar, especialmente, onde o intelecto prevalece. O gênero e o poder caminharam juntos por muito tempo. O homem foi considerado superior até pelo porte físico avantajado, motivo pelo qual, no trabalho desenvolvido na pré-história, a caça, levou certa vantagem, ficando para a mulher o cuidado com a casa e prole.

Com a Revolução Industrial, a mulher entra definitivamente no universo social do trabalho, aceitando condições parcas, e discriminações. Naquele momento era tudo ou nada, até para mostrar a capacidade de desenvolver o labor, tal qual o sexo oposto.

A mulher na advocacia tem feito muita diferença. A sensibilidade para tratar dos mais diversificados assuntos tem as deixado cada vez mais abalizadas para o mister. Entretanto, o crescimento feminino foi tão assustador, que alguns não se encontravam preparados para a respectiva recepção. Por exemplo, os homens diariamente usam calças, ternos e gravatas, enquanto elas são livres para outras vestimentas, tal como saias e vestidos. Também, usam maquiagens, as que desejam. Todavia, o respeito deixa de acontecer, e muitas vezes, pelo descontentamento da sagacidade do gênero feminino em solucionar os diversificados problemas.

Vários banners transmitidos por redes sociais pedem respeito às advogadas baianas: "A violência contra a mulher aparece de várias formas. Todas têm que ser combatidas. " "Advogada! Respeite uma. Respeite todos. " Ainda, externaram algumas frases usadas no meio jurídico que diminuem a condição da mulher advogada, como forma de alerta: "Criminalista? Com essa carinha? ". "Você é muito bonita, nem precisava ser competente". "Você até que é bem inteligente para uma mulher". "É melhor você chamar um homem para te ajudar com isso. " "Não contrato advogada mulher porque elas engravidam. " "Chegou a doutora para embelezar a reunião. "

A OAB/BA sai na frente e deveria ser seguida nacionalmente. Negar essas situações, que infelizmente, algumas já relataram, é mascarar o androcentrismo diário.

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.



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