Livre arbítrio e a ciência
O assunto mais forte das religiões, o livre arbítrio, está provocando acesos debates. Yuval Harari, autor do livro, Homo Deus, desencapa o fio. Diz que teólogos cristãos, muçulmanos e judeus por séculos afirmam que o homem tem dentro de si a alma ou o verdadeiro eu. Que a pessoa tem a liberdade de escolher bons desejos ou não.Se escolher o lado do bem poderia ir para o paraíso, se escolher o mal iria para o inferno.
Para o autor, é a química interna de cada um que leva a pessoa para esse ou aquele caminho. Por que uns votam na esquerda, outros na direita? Por que numa discussão alguém mata seu vizinho e outro oferece a outra face? Podemos escolher esses desejos? Como é que se escolhe? Ele diz que isso não é livre, é a construção bioquímica de cada um que o leva nessa ou naquela direção.
Pode haver numa grande decisão algo externo que poderia ajudar nessa escolha, mas que "nunca a escolha é absolutamente livre". Se essa tese tiver razão, ou que o livro arbítrio não existe, vai provocar muita discussão nas grandes religiões.
O autor vai atrás de pesquisas científicas para dar base aos seus argumentos. Mostra que se coloca um scanner no cérebro de alguém e que se sabe "os desejos e as decisões das pessoas bem antes de elas terem consciência disso".
Que as pesquisas demonstram que a pessoa toma uma decisão não por escolha de sua vontade, apenas sente e age de acordo com a estrutura química e biológica de cada um. Nem vou espichar o que ele comenta sobre o desejo de Eva em comer o fruto proibido. Esse desejo lhe foi imposto por alguém superior ou ela escolheu livremente?
Volto às pesquisas. Hoje se mostra que humanos podem ser manipulados. Que é possível extinguir ou criar a raiva, medo, amor, depressão ao estimular o lugar certo do cérebro. Ele afirma que isso no futuro será uma coisa comum de se fazer e que o "suposto livre arbítrio pode tornar-se só mais um produto que se pode comprar".
No rumo que as pesquisas tomam sobre o livre arbítrio se estaria diante de um problema teológico forte para todas as religiões. O que se dizia é que teria o livre arbítrio implantado dentro de cada pessoa e que ela peca ou não por sua decisão. Que se vai para o paraíso ou não porque livremente escolheu.
O autor e as pesquisas dizem que não, que a escolha ou os desejos seriam fruto da formação evolutiva de cada um eleva a pessoa a agir dessa ou daquela maneira. E que a ciência no futuro poderia modificar aquela parte do cérebro que induz alguém para o mal, para o medo ou raiva. Controlaria os desejos e as escolhas da pessoa ou até mesmo o chamado livre arbítrio.
O livre arbítrio é a base das grandes religiões. Teriam que ter uma resposta nova para esse enorme enfrentamento.
Alfredo da Mota Menezes e-mail: pox@terra.com.br site: www.alfredomenezes.com
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