De omissão coletiva
Quanto maior o número de partidos, mais eles se perdem. Sigla partidária perdida é o que mais temos nesta república de fachada democrática onde mera citação do regime militar de 1964 é recebida com raivosa reação por parte do oportunismo ideológico, do peleguismo sindical e dos ambidestros defensores de interesses inconfessáveis.
Acabo de cobrir um encontro estadual do PV em Cuiabá. No pequeno auditório apinhado vi rostos que no passado militaram em outras siglas. A imagem era a do partido perdido tanto quanto os demais em Mato Grosso, onde o vaivém de filiações é ditado pela corrida para o colo dos poderosos, que se traduz nisso: morto rei, viva o rei.
Não seria justo nominar apenas as figuras ora verdes que no passado levantavam outras bandeiras. No outro lado dessa regra há nomes entre os principais políticos que precisam e devem ser citados por sua fidelidade partidária. Carlos Bezerra nunca deixou seu PMDB, do qual é senhor e rei. Os irmãos, ex-governadores e ex-senadores Júlio e Jayme Campos sempre estiveram no DEM e nas siglas que o antecederam.
Bezerra, Júlio e Jayme à parte, não é justo crucificar apenas o nanico PV, que entra neste artigo apenas para contextualizá-lo. Se citasse o PSDB de Pedro Taques (ex-PDT), o PSB de Mauro Mendes (ex-PR), o PR de Wellington Fagundes (ex-PDT e PSDB) ou o PMDB de Emanuel Pinheiro (ex-PFL e PR) seria a mesma coisa tanto na cúpula quanto na base, porque lamentavelmente partido não passa de mera ferramenta para oficializar nome de candidato ou – o que também é imoral – gazua para manter aberta a porta que leva ao círculo do poder após a eleição independentemente de quem a vença.
Entendo que diante da grave crise nacional – e mato-grossense, de modo especial – o momento é o melhor para se iniciar uma grande reforma eleitoral, de modo a botar freio na superficialidade partidária.
O Estado Brasileiro precisa ser revisto imediatamente a começar pela reforma eleitoral, mas essa revisão não pode ficar restrita à classe política. Não há razoabilidade nas vantagens incorporadas aos salários dos magistrados, membros do Ministério Público, conselheiros e ministros. A continuidade do palacianismo é atentado contra a dignidade humana. O inchaço nas folhas dos servidores é aberração. A continuidade da política de duodécimo é assalto aos cofres. Disponibilizar emendas para parlamentares é imoralidade, é cala-boca. Está na hora de botar o dedo nessas feridas numa ação que somente alcançará resultado se tiver a participação popular, se contar com o grito rouco das ruas e com boa dose de renúncia aos interesses pessoais, porque uma mudança de tamanha amplitude atingirá um grande universo sem mandato, mas que direta ou indiretamente mama nas gordas tetas do velhaco estado politicamente viciado que a omissão coletiva permitiu que brotasse nessa república de fachada democrática.
Eduardo Gomes de Andrade é jornalista
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