De torrão
Ventos, ondas fortes tanto no Tapajós quanto no Amazonas. Era fevereiro, época das águas altas. Navego de Itaituba a Santana. Depois de 817 quilômetros sou recebido pelo secretário de Infraestrutura do Amapá Odival Monterosso. Antes que terminasse minha primeira pergunta sobre a viabilidade ou não do transporte de soja, de Miritituba (em Itaituba) à sua cidade, ele questiona, “você vem de Cuiabá pra que eu fale sobre hidrovia. Volte pra lá e converse com o (Luiz Antônio) Pagot, pois ele é quem sabe tudo sobre isso”. Monterosso é engenheiro naval com doutorado em portos.
Acompanho nas mídias sociais e na nossa imprensa um sistemático ataque a Gilmar Mendes, Blairo Maggi, Silval Barbosa, Carlos Bezerra e outras figuras relevantes do nosso ensolarado Mato Grosso. Meu objetivo com este texto não é tentativa de endeusa-los. Entendo que se trata de homens públicos com erros e acertos. Apenas observo que a maioria das críticas parte de quem em algum lugar do passado mordeu esse ou aquele esquema de governo, ou que tem parente que também o fez (ou faz), ou ainda que goze de algum tipo de aposentadoria precoce ou qualquer outro benefício imoral.
Mato Grosso, por seu povo, não pode se omitir diante do grave momento nacional, mas as figurinhas carimbadas ora tão revoltadas deveriam optar pelo silêncio numa espécie de mea culpa pelo ontem. Mais: acredito que deveria ser deflagrada uma campanha de valorização de nossas figuras públicas, tanto por seus acertos quanto para o fortalecimento de nossa terra no contexto federativo.
Dante de Oliveira teve um governo maculado por escândalos, mas levou para o túmulo o mérito da autoria da Emenda das Diretas e a criação do Fethab. Na semana passada, Ricardo, jogador do Luverdense, marcou o 500º gol na Arena Pantanal, que leva a chancela de Silval. Nossa sempre senadora Serys Slhessarenko foi autora do projeto que resultou na lei da delação premiada. Júlio Campos criou a lei de proteção à testemunha. Bezerra deu vida à PEC das Domésticas. Pela expressão de Gilmar Cuiabá ganhou um trajeto pavimentado alternativo entre o Chapadão dos Parecis e Vilhena. Blairo abre mercados mundiais ao agronegócio de nossa terra. Pagot idealizou a espinha dorsal alimentadora da BR-163 e luta pelo fortalecimento dos portos do Arco Norte.
O Brasil passa por mudanças, que devem ser feitas, mas sem excesso de zelo. É preciso fortalecer essa virada de página, ao estilo torniquete, sem afogadilho e longe dos fígados intoxicados dos comensais do poder no ontem. A crítica dessa gente parece choro de viúva das mamatas em esfera menor. A história é juiz que não erra e saberá julgar nossos vultos. Quanto a mim, continuarei a respeitá-los. Obrigado Blairo, Bezerra, Pagot, Serys, Gilmar, Silval, Júlio e Dante. Sempre os olharei pela luz que lançaram e lançam sobre este nosso abençoado torrão.
Eduardo Gomes de Andrade é jornalista
eduardogomes.ega@gmail.com
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