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Opinião
Quarta - 28 de Junho de 2017 às 18:41
Por: José Vieira

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Jovens e até idosos com a personalidade completamente desfragmentada vagando pelas ruas ou em casas luxuosas como verdadeiros zumbis, sem poder dispor-se de si, de ser quem são, adulterados por drogas que geram um ar frio e depressivo. Eles são "os outros" que não queremos ver, mas poderia ser eu, você, seu filho, um amigo. São personagens ativos do convívio social, que, por um motivo ou outro, tropeçaram diante da compulsão pela droga, seja ela lícita ou ilícita, e agora precisam de mãos que os levantem. Para quem não sabe, ao Estado cabe este papel como bem determinado há cerca de 10 anos da Política Nacional sobre Drogas (PNDA). Há toda uma legislação estabelecendo medidas, regras e até um fundo para ajudar nesta questão.

Contudo, passados 10 anos da publicação da legislação que trata do assunto, pouco foi feito. É ínfima a ação dos entes gestores tanto no que tange aos dependentes que precisam de ajuda como em relação à "menina dos olhos" da política de drogas: a prevenção - mais barata e eficaz. Acontece que os agentes envolvidos nesta seara batem cabeça com interesses exclusivistas e na prática pouco é feito. Seres humanos ávidos por reaver a própria personalidade e, por conseguinte, a vida, seguem sem nenhum tipo de ajuda para tratamento, salvo no caso das famílias que conseguem pagar pela internação numa boa instituição.

As campanhas de prevenção, por sua vez, parecem uma miragem. Pode-se fazer prevenção com uma ampla gama de medidas, não apenas propagandas, mas, por exemplo, incentivando adolescentes a praticar esportes e o desenvolvimento das habilidades. Tudo aquilo que as deixe longe do interesse pelas drogas. Por outro lado, enquanto as quadras esportivas das comunidades estão rachadas, sem estrutura, o tráfico segue a todo vapor. Neste Estado de descaso com a coisa pública, a droga irrompe nos seios familiares em busca de novos zumbis.

Surge então a sensação de que esta é uma luta fracassada. Com ela aparecem interesses orquestrados em prol da descriminalização das drogas para maiores de 18 anos. Ora, se o álcool, também só permitido no país para maiores de 18 anos, já é a porta de entrada dos adolescentes para outras drogas, imagine o aumento do índice de criminalidade entre eles quando todo o resto for permitido aos adultos. Trata-se de uma armadilha dantesca. Surgiria o tráfico para adolescentes. E o Brasil tem assegurada uma Política Nacional sobre Drogas. Por que não efetivá-la? Por que submeter nossos filhos e filhas a isto sem escolha?

Nesta segunda-feira, 26 de junho, é comemorado o Dia Internacional de Combate às Drogas. Trata-se de uma data de reflexão para a sociedade sobre o que queremos para o nosso futuro no tocante a esta problemática. Vamos seguir iludidos com políticas paliativas ou tocar na ferida para enfrentá-la de perto aberto?


José Vieira - Consultor, palestrante em programas de prevenção de álcool e drogas, e integrante da equipe da Limiar Consultoria



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