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Opinião
Quarta - 04 de Dezembro de 2013 às 10:27
Por: Roberto Boaventura

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E lá se foi mais um ano! Sinto isso quando vejo o primeiro “papai Noel” pela frente. Já vi alguns soltos por aí. 


 
À essa altura, além das chatíssimas vinhetas de TV, editores da mídia começam a preparar as “retrospectivas do ano”; tudo pensado para programas e páginas especiais. 


 
Nesse sentido, de antemão, vale dizer: 2013 não deve nada aos anos idos. Ainda que tenha “voado”, foi ano farto de ocorrências. Na verdade, a impressão que tenho é a de que algo plus aconteceu. 


 
Especificamente, refiro-me ao anúncio de uma possível greve em nosso futebol.


 
"Tudo teria começado pela troca de ideias entre dois jogadores: Alex (Coritiba) e Juan (Internacional)"
Essa ideia vem sendo preparada pelo “Bom Senso F.C.”: movimento de jogadores que reivindica racionalidade na elaboração do calendário esportivo. Os primeiros avisos aos “patrões” foram dados por meio de faixas e alguns atos, como o de ficarem parados por alguns segundos, após o apito do árbitro, e da troca de passes entre jogadores de times adversários (São Paulo e Flamengo, em 13/11). 


 
Tudo teria começado pela troca de ideias entre dois jogadores: Alex (Coritiba) e Juan (Internacional). Ao saber dessas conversas, Paulo André, “zagueiro campeão mundial pelo Corinthians (contratado do Le Mans, da França, onde atuou durante quatro temporadas)”, inseriu-se na articulação e se tornou porta-voz do movimento.


 
Dessa condição, agora, o anúncio foi feito “por escrito”. Paulo André concedeu entrevista às páginas amarelas da Revista Veja, de 27/11; aliás, uma das melhores já publicadas nesse espaço midiático, conservador por excelências das estruturas sociais. 


 
Quem diria?! Depois de paralisações na saúde, educação, transporte, segurança, correios, agências bancárias... greve no futebol! Esse é o clima pré-Copa. 2014 promete muitas emoções... 
Em termos concretos, dois pontos estão na pauta de reivindicações dos atletas (aproximadamente150), que “trocam mensagens pelo WhatsApp: 1º) “a redução do número de jogos dos clubes da elite e o aumento do calendário para os times das divisões inferiores”; 2º) “a implementação do fair play financeiro, objetivando punir os clubes que gastarem mais do que arrecadarem”.


 
A centralidade das reivindicações é a mesma exposta por outras categorias desde os primórdios da produção fabril, tudo identificado por Marx no século 19: exploração do trabalhador. Conforme Paulo André, “Tem jogo todo dia na televisão sem o menor critério de qualidade. Só quantidade.” 


 
Mas desde os primeiros lances desse movimento, tive a curiosidade de saber sobre seu embrião, uma vez que o futebol insere-se no setor do entretenimento; portanto, movedor de interesses de poderosos grupos nacionais e internacionais. Alguns desses, inclusive, trilham por caminhos mafiosos.


 
Para matar essa curiosidade, Paulo André foi direto: “Os jogadores que começaram a reclamar do calendário foram aqueles que passaram um tempo na Europa e depois voltaram...”
De sua parte, o tempo que passou na França, principalmente durante a recuperação de cirurgias no joelho, foi bem aproveitado: voltou a estudar; leu livros de psicologia – para auxiliar numa depressão – e de filosofia. Leu “tudo de Dostoievski e Voltaire”. 


 
Ao saber disso, resguardadas as diferenças, que não são poucas, lembrei de um grupo de alguns jovens da elite de Minas Gerais do século 18, identificados como inconfidentes. Depois de voltarem da Europa, tendo lido o conjunto de filósofos iluministas, dentre eles, Voltaire, opuseram-se à “derrama”: aquela cobrança de impostos que dilapidava a vida da colônia. Só a Coroa lucrava.


 
Salve a leitura! Salve o esporte!


 
ROBERTO BOAVENTURA é professor da UFMT e doutor em jornalismo


Autor

Roberto Boaventura

ROBERTO BOAVENTURA  é doutor em jornalismo e professor de Literatura da  UFMT

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